A fenomenologia tradicional,
enquanto estudo ou explicação dos fenómenos, fundamentada na pressuposição de
uma realidade positiva e estática, tem utilizado uma metodologia reducionista
na compreensão dos objectos apreendidos pela consciência. Entender aquilo que
aparece, como um fenómeno estático estudado pela fenomenologia é reduzir essa
entidade ao mero positivismo existencial, mas também, excluir o negativo ou a
negação, do seu campo de actuação e estudo. O desenvolvimento das ciências e do
conhecimento científico é, actualmente, cada vez mais construtivista e
criacionista; é construtivista no sentido em que a realidade humana actual é fortemente
influenciada e construída a partir do que existe, é criacionista porque até nas
ciências naturais, ou exactas, se admite a criatividade como produtora de
conceitos, ou ideias, que posteriormente se tornam realidades existenciais. A
fenomenologia tradicional nega a participação do observador na criação do
fenómeno, na criação do objecto observado; a fenomenologia dualista propõe uma
abordagem segundo a qual qualquer fenómeno tem duas componentes próprias,
indissociáveis mas mutáveis, ou seja, aquela componente que diz respeito ao que
está a ser observado e a outra que diz respeito ao observador. A fenomenologia
dualista aceita a mudança, aceita portanto a mutabilidade dos fenómenos
observados; o aparecido que aparece não tem realidade existencial estática,
própria e independente de um ser captante ou observador; o aparecido que
aparece depende do observador que o observa; o fenómeno aparecido, que aparece,
é o resultado existencial de uma interacção recíproca entre o observador e o
observado. Para a fenomenologia dualista o fenómeno não é meramente o que
aparece, o fenómeno é algo mais, o fenómeno é o aparecido.
O método fenomenológico tradicional
promove a redução eidética como modo de alcançar a essência; enquanto retira
atributos ao que aparece até lhe alcançar a essência está a estabelecer e
delimitar o campo ou território do fenómeno; ao considerar a essência como conditio sine qua non para a realidade
existencial do fenómeno, está apenas a considerar uma realidade estática,
unidimensional e externa ao ser que a observa. A nova fenomenologia dualista
não nega a tradicional mas complementa-a, aceita a metodologia da redução
eidética mas impõe a sua aplicabilidade simultânea ao observador e observado, aceita
pois, a dualidade da essência como condição de paridade dual e indissociável na
construção dinâmica do fenómeno; assim o eidos, essência ou ideia, só faz
sentido enquanto coexiste em dualidade simultânea e dinâmica com o ser ou ente
que o acompanha. O fenómeno que aparece e a essência do aparecido, funcionam
estruturalmente como as duas faces de uma moeda, separados não existem, já que
a sua realidade existencial é dualista.
Doutor Patrício Leite, 18 de Janeiro de 2018