CRITICA DAS LEIS DA OFERTA E PROCURA
Este microensaio de pensamento
criativo, aplicado à teoria económica, surge num momento de relaxamento
cognitivo, de repouso intelectual, de abrandamento da imaginação criativa como
fundamento da produção de ideias científicas e filosóficas. A intensa
complexidade cognitiva da criatividade matemática, científica e filosófica,
abranda, para dar lugar a uma racionalidade mental contínua, mas suave, pouco
exigente; porém, nesta pausa compensadora, é criada uma simples ideia: uma nova
interpretação teórica aplicada aos fundamentos da actual ciência económica do
mercado livre. Efetivamente, a categorização das ciências tem permitido uma
melhor abordagem sistemática; também, os critérios que definem as regras categóricas,
são meras aplicações da vontade humana; é neste contexto que surge o agrupamento
científico: descritivas, quando apenas descrevem o respectivo objecto de
estudo; preditivas quando conseguem, pelas relações de causa a efeito, prever o
futuro com algum nível de previsibilidade estatística e, finalmente,
prescritivas quando o sujeito observador impõe condições ao objecto observado.
A teoria económica, enquanto categorização prescritiva assente na livre
concorrência das leis da oferta e da procura; surge num contexto do
desenvolvimento cultural traduzido por uma visão muito específica do homem e do
mundo. Efectivamente, a grande maioria das teorias, ditas científicas, tem-se
baseado numa visão egoísta, hobbesiana, de natureza concorrencial ou conflitual:
numa máxima generalização, a teoria da evolução natural encara a conflitualidade
entre a vida e a natureza com notável supremacia das forças da natureza e absoluta
concorrência pela vida entre todos os seres vivos individuais; num outro
extremo, muito particularizado, a teoria psicanalítica encara as relações
conflituais intrapsíquicas com ataques e defesas do ego; entretanto, numa
posição intermédia, surge a teoria económica que encara a concorrência social pelas
leis económicas da oferta e da procura. A teoria económica não descreve a
realidade como esta se apresenta, também não prevê uma realidade futura com
base em relações de causa a efeito; a teoria económica prescreve situações
ideais cujo mercado ideal, com infinitos vendedores a oferecer e infinitos
compradores a procurar, teria um único preço a surgir concorrencialmente deste
confronto; obviamente que, segundo esta prescrição teórica, nesta situação
ideal o mercado seria dominado por um só preço, único e absoluto; no entanto
este paradoxo não se verifica na realidade presente e nunca será verificado; o
ser humano não comporta apenas uma única dimensão, o ser humano tem muitos
aspectos que o diferenciam, tem uma enorme variabilidade; considerar o ser
humano unidimensional na convergência para o preço de mercado, único e absoluto,
é um mero ideal paradoxal e absurdo do unidimensionalismo humano. A situação
descritiva da actual realidade mercantil mostra, a qualquer pessoa, uma observação
do mercado real, com muitos e diferentes preços, muitos e diferentes vendedores
dispostos a aceitar negociações por diferentes quantidades monetárias e,
analogamente, muitos e diferentes compradores dispostos a pagar diferentes
valores; o que domina o mercado é a heterogeneidade da diferença e não a
homogeneidade da igualdade; porém, entenda-se, há também aspectos igualitários,
aspectos comuns; repare-se que comprar e vender é apenas a bivalência de uma mesma
realidade: a troca. Efectivamente, quem compra produtos vende dinheiro, quem
vende produtos compra dinheiro. A observação atenta do mercado, permite
verificar uma enorme diversidade de preços negociais, de preços de venda, de
preços de compra, … mas também alguma regularidade previsível. Não é pela visão
imediata e desatenta que se encontra esta regularidade previsível; é sim, pelo contrário,
através de um desprendimento criativo sistémico, reflexivo e abstracto, que se
encontra alguma regularidade que simula ou, grosseiramente, aparenta a
aproximação à curva normal na distribuição dos preços.

Em qualquer mercado, a
curva, grosseiramente em forma de sino, para a distribuição dos preços, lembra
uma aproximação comparativa, analógica à estatística da lei dos grandes números
e do teorema do limite central. Considerando o valor do preço como uma variável
métrica continua e a simetria básica ou fundamental, dos dados observados: produtor
– consumidor; oferta – procura; comprador - vendedor, etc. pois, o raciocínio
estatístico analógico conduz imediatamente, o pensamento, para uma imagem mental, da
curva em forma de sino, da distribuição normal dos preços, num mercado ideal
com infinitos vendedores, infinitos compradores e infinitos preços de encontro
negocial acordado; portanto, ao tratar de grandes números, num mercado ideal,
em concorrência perfeita, a curva de distribuição dos preços será normal ou
gaussiana. A distribuição normal, ou gaussiana, para um
mercado ideal, não se verifica apenas para a distribuição dos preços
concretizados após a negociação individual entre cada comprador e cada
vendedor; mas também, em condições ideais, se encontram distribuições normais
nos valores que o grupo dos vendedores está disposto a receber e o grupo dos
compradores está disposto a pagar; efectivamente, em mercados ideais,
encontram-se muitas curvas de distribuição normal. Extrapolando para a teoria
clássica do mercado, pois, os produtos oferecidos seguem uma distribuição
normal, os produtos procurados seguem uma distribuição normal e os preços
concretizados seguem, também, uma distribuição normal. Quando, na sequência do
pensamento de Adam Smith, a riqueza das nações resultaria do liberalismo de
mercados livres e eficientes, pois, o preço de mercado, definido por essa
teoria do liberalismo económico, como o encontro da oferta e da procura,
corresponderia apenas e tão-somente, à média, mediana e moda da curva gaussiana
da distribuição normal, aqui e agora, estipulada para a distribuição dos preços
de mercado em condições ideais de concorrência perfeita. Efectivamente, a
unidimensionalidade humana estipulada e prescrita pela teoria do liberalismo
económico clássico do preço único de mercado é agora, pela teoria patricista
estatística de mercado, transformada numa pluralidade multidimensional humana
cujos infinitos preços, resultantes de infinitas negociações de um mercado
ideal, seguiriam rigorosamente a curva de distribuição gaussiana ou normal; por
outro lado, em mercados reais, mercados estes realmente encontrados no
dia-a-dia da actividade económica negocial, a curva normal gaussiana perfeita
adquire e contém irregularidades como a cauda á direita ou á esquerda, numa
curtose que avalia a dispersão dos preços, mas também se verifica
irregularidade na dispersão para qualquer outro factor de mercado considerado;
além da curtose outras variações estatísticas encontradas nos mercados reais do
dia-a-dia quotidiano, podem corresponder, entre tantas e muitas outras, por
exemplo, ao desequilíbrio do desvio padrão com o respectivo desencontro entre a
média, mediana e moda, numa transformação que se afasta da curva normal
gaussiana típica de um mercado ideal. É sabido que a teoria clássica do liberalismo
económico contempla alterações e irregularidades na lei da oferta e da procura,
por exemplo, nas situações de monopólio, monopsónio, oligopólio, oligopsónio,
cartel, dumping etc. mas também é aceite, nesta nova teoria patricista estatística
de mercado, que essas e muitas outras irregularidades de mercado podem ser
interpretadas e explicadas de acordo com as leis e curvas estatísticas que se
afastam da curva normal gaussiana; desde logo, barreiras como a regulamentação
legal, as ajudas de custo, a diversificação de impostos e taxas aduaneiras, os
abusos de posição dominante, a publicidade com a criação de necessidades e de
uma imagem de marca que se impõe no mercado mas também a contrafacção ou a
assimetria de informação, constituem simples exemplos práticos de restrições ao
referencial ideal da teoria clássica do liberalismo económico de mercado, mas
também ao referencial ideal da nova teoria patricista estatística de mercado
que encontra na normal distribuição gaussiana dos preços o seu ideal de
referencia e interpreta as irregularidades como desvios a essa normalidade. Actualmente,
os conhecimentos estatísticos já constituem a ferramenta básica para os estudos
de mercado, resta, pois, substituir a teoria clássica do mercado como forma
dominante de interpretação por uma nova teoria, mais adequada e mais realista:
a teoria patricista estatística de mercado. 
A conjugação das actuais leis do
mercado ideal da oferta e da procura, permite, se cada uma seguir a curva
sigmoide simetricamente crescente e decrescente, configurar uma curva de
distribuição normal ou gaussiana. Continuando a imaginação comparativa,
fundamentada na analogia criativa, pois, a curva gaussiana em forma de sino,
permite conceber a aproximação à ideia das teorias do ciclo de vida aplicadas
aos produtos, mercados etc. e, assim, estruturar campanhas de marketing, ciclos
de produção, inovação etc., ampliando, deste modo, os horizontes da gestão ou,
querendo, extrapolar para a microeconomia, macroeconomia, economia politica
etc.
Doutor Patrício Leite 28 de Outubro de 2025