EPIDEMIOLOGIA ECONÓMICA EMPRESARIAL

Introdução
Incerteza e probabilidades em economia matemática
Fundamentos das crises económicas
Quantificação da probabilidade de crise económica
Elasticidade da oferta e da procura
Análise e investigação em economia
Epidemiologia económica
História natural da doença económica
Prevenção primária em economia e gestão
Risco económico e empresarial
Estudos epidemiológicos económicos e empresariais
Risco relativo em estudos de coorte
Odds ratio em estudos de casos-controlos
Rastreio da crise económica e empresarial
Testes de rastreio da crise económica empresarial
Fundamentos estatísticos da investigação
Depressão económica empresarial
Semiologia da depressão económica empresarial
Síntese conclusiva de epidemiologia económica empresarial

Introdução
A teoria dos ciclos económicos, inerente ao capitalismo liberal e competitivo, de um mercado global concorrencial, onde imperam as leis da oferta e da procura, com infinitos compradores e infinitos vendedores, capazes de impedir distorções de mercado como, entre outras, situações de monopólio e monopsónio ou oligopólio e oligopsónio, tem dominado o pensamento contemporâneo, tanto no domínio da micro, como da macroeconomia. Na realidade, tanto a linguagem em geral como a linguagem económica, em particular, manifesta uma dualidade conceptual e racional muito acentuada; por vezes dicotómica, por vezes antitética, por vezes meramente competitiva ou, até, cooperativa porém, sempre dualística.
Desde logo, a filosofia do conhecimento, impõe a ideia distintiva primária entre o conhecido e o desconhecido, que se continua pelos conceitos de certeza e a incerteza; depois, na senda deste tributo, surge a noção de parte e todo que, em associação com a incerteza do desconhecido, promove a matemática do cálculo probabilístico num quociente fundamental entre as partes e o todo; obviamente que a existência de um todo, ou totalidade, como sistema, implica imediatamente a ideia de um interior a esse todo e um exterior; porquanto, a psicologia da motivação explica a necessidade como um estado de carência do meio interno que pode ser satisfeita através do meio externo; porém no meio externo a abundância é relativa e a escassez não permite satisfazer a procura agregada determinada pelas necessidades conjuntas de todas as pessoas em estado de carência, ou necessidade; a escassez e a necessidade são os fundamentos estruturais do conceito de bem económico; assim surge a economia como ciência social e humana. Se os bens económicos, por definição, escassos e necessários, não existem em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades agregadas de toda a população de uma comunidade, então é preciso desenvolver uma actividade económica capaz de produzir esses bens económicos, porém, simultaneamente ocorre competição pela obtenção do melhor e máximo consumo desses bens; logicamente, as pessoas cooperam no trabalho produtivo, desses bens económicos e competem pelo melhor consumo; se na actividade produtiva alguns colaboram com a força do trabalho, outros detêm os meios de produção, o capital, o qual, como bem de produção produzido, é um factor de produção, ou recurso, utilizado pelas empresas na produção de produtos e serviços que serão vendidos; o excedente de produção pode ser totalmente absorvido pelo mercado interno ou, de outro modo, ocorrem trocas comerciais entre fronteiras que originam importações e exportações numa balança comercial mais ou menos equilibrada, porém, os compradores pagam sempre pela aquisição dos produtos ou serviços e os vendedores recebem esse dinheiro para fazer face aos compromissos com os fornecedores e os trabalhadores; se os proveitos e ganhos são superiores aos custos e perdas, a empresa é lucrativa e sobrevive, de outro modo terá de recorrer ao crédito e aumentar o seu passivo, mas o crédito concorre com o débito no equilíbrio entre o dever e o haver tornando-se assim importante para obter o balanço, usando as partidas dobradas de uma contabilidade organizada; obviamente, quando o passivo supera muito o activo a empresa pode-se tornar insolvente e entrar em falência aumentando o desemprego e lançando os trabalhadores para situações de pobreza com incapacidade de pagar as suas compras levando a uma diminuição do consumo, se não há consumo também os produtores não vendem nem ganham dinheiro pelo que todos empobrecem e a economia entra num período de contracção, numa recessão depressiva com pessimismo de toda a comunidade; assim, as pessoas são forçadas a poupar e posteriormente a investir essas poupanças, permitindo a retoma da actividade económica cujas receitas ao superar as despesas gera riqueza que por ser distribuída conduz a um aumento do consumo com crescimento e expansão da oferta e da procura de bens económicos.
A análise e o aprofundamento do pensamento económico têm demonstrado que, mesmo nas situações de mercado em concorrência perfeita, existe sempre uma assimetria desigualitária entre a oferta e a procura; na realidade, a oferta surge em função da procura pois, é a necessidade que gera a procura, na sequência da qual, a oferta dos excedentes de produção, surge como meio de troca para satisfazer necessidades do agente económico; é esta assimetria, entre a oferta e a procura, que fundamenta o desenvolvimento das crises económicas, é por causa destes períodos assimétricos, com domínio da oferta ou, pelo contrário, da procura, que se geram os designados ciclos económicos; finalmente, por outro lado, a substituição dos conceitos de oferta e procura pelas noções dualistas inerentes aos conceitos de ataque e defesa, próprios do jogo competitivo, poderiam conduzir a novos raciocínios, do pensamento económico, capazes de acabar com a actividade económica cíclica do capitalismo.

Incerteza e probabilidades em economia matemática
Se a linguagem económica, no plano conceptual, manifesta uma intensa dualidade antitética, antagónica e simétrica; pois, a realidade observacional dos factos e fenómenos inerentes a esta ciência social é, substancialmente, diferente. Efectivamente, a discrepância assimétrica relacional entre a teoria e a prática, as ideias e as acções, o planeamento abstracto e a concretização da actividade económica, têm conduzido a incertezas cognitivas que agravam qualquer risco de investimento; quantificar matematicamente o risco é, de certo modo, planear, organizar, dirigir e controlar a execução prática de qualquer projecto de investimento. As probabilidades e o cálculo estatístico surgem, assim, como ferramentas matemáticas capazes de auxiliar, na teoria da tomada de decisões. A probabilidade é, fenomenologicamente, uma relação entre a parte e o todo, ou melhor, especificamente, uma razão ou quociente entre a parte e a soma das respectivas partes, constituintes, do conjunto considerado.
Assim:
p = a/(a + b)
Sendo:
p = probabilidade de a
a = número de elementos a
b = número de elementos b
Compreende-se, imediatamente, que a probabilidade varia entre 0 - 1, com zero (0) considerado como a certeza absoluta de que um acontecimento não ocorrerá e um (1) considerado a probabilidade absoluta de um acontecimento, ou seja, a sua ocorrência a 100%.
Matematicamente vem,
p(a + b) = a
pa + pb = a
pb = a - pa
pb = a(1 - p)
b/a = (1 - p)/p
Se, agora, em termos económicos for considerada a lei da oferta e da procura com,
a = lei da oferta
b = lei da procura
pois, a expressão algébrica, (1 - p)/p, surge como um factor probabilístico de assimetria capaz de eventualmente explicar as perturbações do mercado conhecidas por crises económicas.

Fundamentos das crises económicas
Assumindo a antítese conceptual e reducionista da linguagem económica, num mercado a funcionar regularmente, em concorrência perfeita, pois, como tudo se reduz as leis da oferta e da procura, então são três as situações de mercado, a saber:
Primeira: a produção iguala o consumo, a oferta iguala a procura, a compra iguala a venda, enfim, a simetria é perfeita e verifica-se um equilíbrio com estabilidade económica.
Segunda: a produção é maior que o consumo, a oferta supera a procura, gera-se um desequilíbrio por excesso de produção com stocks em armazém que, por excessivos, não se conseguem esgotar, não se conseguem comercializar e, sem força de vendas, não há receitas, as empresas ficam em liquidez e incapazes de cumprir os seus compromissos no momento em que o passivo vence, inclusivamente incapazes de pagar aos seus trabalhadores com despedimentos que, por isso vêm diminuído e agravado o respectivo poder de compra, agravando a crise que progride para uma grave recessão com depressão económica e social.
Terceira: a produção é inferior ao consumo, a oferta é inferior à procura, as pessoas querem comprar para consumir, até podem ter dinheiro inflacionado, mas a escassez é tão elevada que não há produtos para comprar, obviamente a inflação, a subida generalizada dos preços, com todas as suas consequências, passa a imperar, a satisfação das necessidades e carências torna-se deficiente, incapaz e insuficiente, as pessoas, insatisfeitas e infelizes, agravam a crise económica com convulsões e, por vezes, violência social.

Quantificação da probabilidade de crise económica
Se, na fórmula das probabilidades com, p = a/(a + b) se considerar:
a = lei da oferta
b = lei da procura
Então, as três possíveis situações de mercado surgem assim:
a = b => p = 1/2
a > b => p > 1/2
a < b => p < 1/2
por conseguinte, considerando os valores de p, é fornecida a quantificação da probabilidade de surgir uma crise económica por excesso de oferta ou por excesso de procura.

Elasticidade da oferta e da procura
Sabe-se da economia clássica que o mercado funciona por confrontação entre a oferta e a procura, o preço surge no ponto de encontro entre estas duas leis económicas; sabe-se também, da escola do pensamento marginalista, que a variabilidade do preço, da oferta e da procura, têm equivalência com as respectivas elasticidades da oferta e da procura; acrescenta-se que diferentes produtos e serviços têm diferentes elasticidades, é porém de toda a evidência que, seja qual for o bem económico, a sua elasticidade nunca varia até ao infinito, ou seja, para qualquer bem económico, chega a um ponto da situação em que o mercado, e os respectivos preços, já não se conseguem adequar à variabilidade da oferta, ou da procura; surge assim, uma situação, habitualmente cíclica, de crise económica com recessão, ou simples contracção da actividade económica.
Considerando agora a respectiva fórmula, ou equação, das probabilidades, p = a/(a + b), porém raciocinando em termos da variabilidade adaptativa típica da elasticidade da oferta e da procura agregadas, considerando novamente as inerentes, três situações de mercado, sendo:
a = lei da oferta
b = lei da procura
p = probabilidade da oferta
Então, as três possíveis situações de mercado, surgem assim:
a = b => p = 1/2
a > b => p > 1/2
a < b => p < 1/2
por conseguinte, em termos da adaptabilidade do mercado a elasticidade da oferta, ou da procura, as crises económicas surgem sempre a partir de um determinado valor de p diferente de 1/2. Pode-se afirmar que, de um modo geral, quanto mais extremo for o valor de p, isto é, quanto mais ele se aproximar do valor zero (0) ou um (1), pois, menor a capacidade que o mercado e a economia têm de se adequar e adaptar; chega a um momento, atinge-se o ponto de não retorno e já não é possível adequar os preços instalando-se a crise depressiva económica empresarial.
Continuando a raciocinar sobre a elasticidade da oferta e da procura, pois, outro mecanismo para a instalação da crise consiste na impedância, ou seja, o tempo que medeia enquanto os preços de mercado se adaptam às novas situações da oferta ou da procura; este mecanismo, de um modo geral, conduz a desequilíbrios e crises mais frequentes, mas também mais ligeiras e, habitualmente, facilmente ultrapassáveis; estas últimas, por vezes, nem chegam sequer a ser percepcionáveis pela generalidade da população.

Análise e investigação em economia
Os estudos económicos e a investigação, ainda que concretizando uma abordagem meramente qualitativa, terão sempre de considerar a existência de diferentes categorias de mercados e bens económicos; de um modo geral, a oferta e a procura, agregada e total, reflectem o total do mercado interno, por outro lado, se for considerada também a balança comercial, que é no fundo uma forma de agregação, pois então, reflecte o total de produção e consumo; com maior ou menor défice, com maior ou menor superávite.
A abordagem pode ser sectorial, a análise e investigação em economia, podem considerar apenas a oferta e procura de bens de capital, portanto destinados ao investimento em produção; podem apenas considerar os bens de consumo pelas famílias; podem apenas considerar as matérias-primas como bens primários, essenciais e fundamentais para o funcionamento da economia, como um todo; porém, é no âmbito da respectiva elasticidade entre a oferta e a procura que se estabelece a importância e contributo para o desencadeamento e manutenção da crise económica; seja esta provocada do lado da oferta ou, por outro lado, da procura.
A abordagem e a metodologia de análise e investigação podem também ser direccionadas para outras categorias, não apenas para os mercados e bens económicos mas também para os mecanismos de funcionamento do mercado e da economia total; é neste âmbito que, a dualidade conceptual, antitética e dicotómica, ou não, implica sempre um antagonismo dual com relevância fundamental e significativa nos projectos de investigação; seja nos mecanismos da oferta e da procura, agregadas ou não; seja nos mecanismos da produção e consumo; seja nos mecanismos das compras e vendas, activo e passivo, importações e exportações, bens de investimento ou consumo, enfim, … esta dualidade antagónica implica uma metodologia de investigação científica muito semelhante aos estudos epidemiológicos desenvolvidos em medicina, e saúde pública, a fim de determinar os factores de risco para a saúde e a doença, porém, aqui, para o desencadeamento e manutenção de crises económicas no âmbito da dinâmica do capitalismo competitivo.

Epidemiologia económica
Frequentemente, os teóricos da economia, reconhecem a analogia comparativa, que fazem, entre diferentes ramos do conhecimento científico e a vida das empresas, mas também da economia, como um todo, na produção, adaptação e aplicação das suas ideias, pensamentos e raciocínios, que virão a servir o pensamento económico, e respectivas ciências afins; de facto, aspectos cognitivos teóricos como, por exemplo, o modelo gravitacional, foi primeiramente conceptualizado e utilizado pela física clássica newtoniana e, posteriormente, adaptado às relações económicas e comerciais internacionais, designadamente entre países que, por terem diferentes distâncias entre si, também desenvolveriam diferentes variáveis nas respectivas intensidades das trocas comerciais; já o modelo do ciclo de vida, próprio das ciências biológicas, onde primeiramente se observou, foi posteriormente transformado e adaptado à gestão de produtos e marcas comerciais mas também outras áreas económicas cíclicas em geral; ainda nesta lógica de pensamento, os modelos ecológicos, em conjunto com as teorias do ciclo de vida, foram adaptados e ultimamente, integrados e utilizados no pensamento próprio da designada economia circular. Qualquer teoria que admita a circularidade, portanto, a teoria dos ciclos de vida, ou melhor, dos ciclos económicos, com períodos de contracção ou recessão económica alternando com períodos de expansão e crescimento económicos são muito úteis, promovem uma certa sensação de segurança, porém, não explicam nem prevêem rigorosamente todas as situações. Outras áreas do saber humano, como a medicina, designadamente a saúde pública, com a epidemiologia, ou seja, os estudos acerca da população, têm desenvolvido metodologia científica mais capaz de quantificar o rigor e a precisão nos factores capazes de promover e desencadear doença humana. É sobejamente reconhecido, cientificamente, que o tabagismo, a hipertensão arterial, o sedentarismo com obesidade, são graves factores de risco para doenças cérebro e cardiovasculares; a medicina, lida e resolve estes problemas na sua actuação prática do dia-a-dia; assim, considera-se que a aplicação, à economia e gestão, da metodologia utilizada em medicina, designadamente na investigação epidemiológica, iria proporcionar benefícios e mais-valias capazes de prevenir e solucionar problemas económicos actuais que, de outro modo, nunca chegariam a ocorrer.            

História natural da doença económica
Se, por analogia com a doença humana, causadora de sofrimento, considerarmos as crises económicas, com contracção da actividade económica e recessão, como doenças, pelo sofrimento social que geram, com insolvências, falências empresariais e respectivos despedimentos, desemprego e mal-estar social, pois justifica-se, de todo, transpor a aplicação da metodologia de investigação em medicina para a área da economia e gestão; por conseguinte, tendo em atenção a história natural da doença, assim se desenvolvem níveis de prevenção: em prevenção primária lidam-se com os factores de risco; em prevenção secundária tentam-se os rastreios e o diagnóstico precoce; continuando o paralelismo comparativo entre estas duas áreas do saber e da actividade humana, numa economia, ou empresa, doentes, efectuam-se os respectivos tratamentos e tenta-se a reabilitação precoce.
A analogia comparativa, aqui expressa, permite que o pensamento económico-empresarial caminhe conjuntamente com o pensamento médico numa actuação prática adequada às respectivas especificações.
  
Prevenção primária em economia e gestão
Os estudos de investigação em prevenção primária tentam, primeiro, identificar os factores de risco causadores da doença económica e empresarial, posteriormente, são tentadas sobretudo duas estratégias, básicas e fundamentais, para lidar com esses factores de risco: primeiro evitar o contacto com esses factores previamente identificados e, nesta situação, torna-se muito importante a educação e divulgação de conhecimentos na área da economia e gestão; assim, é necessária a divulgação fácil e acessível de cursos e acções de formação em gestão e economia, no sentido de auxiliar e capacitar os empresários e outros decisores; por exemplo, um centro de informação empresarial que, após estudos epidemiológicos, rigorosos e controlados, colocasse à disposição dos novos empresários conhecimentos e informações sobre o risco ou probabilidade de fracasso quando estes entram num novo negócio, em determinada região geográfica, iria contribuir, e muito, para evitar as situações futuras de dificuldades de tesouraria, das novas empresas, com possível insolvência e falência empresarial; ainda por semelhança, considerando agora as doenças infecto-contagiosas e os respectivos surtos de contagiosidade, pois, frequentemente os contágios fazem-se para além das fronteiras territoriais de um país, ora isto, em economia significa tão-somente importar as crises económicas; estas crises podem ser previstas e a informação divulgada a todos os órgãos de decisão, pública e privada, no sentido de evitar o contacto ou então tomar medidas atempadamente; as medidas económicas de higiene e sanitárias permitem diminuir o contacto ou a entrada dos agentes agressores; uma segunda estratégia básica e fundamental para lidar com factores de risco em gestão empresarial, e economia, consiste na imunização, como que uma espécie de vacina, através da qual, um empresário experimentado realiza cálculos previsionais, com as respectivas reservas monetárias, e de outros recursos, que lhe permitirão enfrentar as dificuldades futuras no momento oportuno; obviamente, esta situação de imunização em face de agentes agressores, que já invadiram os organismos empresariais e a economia nacional, também se aplica à economia de um estado, de um continente com a respectiva zona e região económica ou, até, ao nível da economia mundial.

Risco económico e empresarial
Primeiro, torna-se necessário clarificar aquilo que se entende por risco; assim, o risco é considerado como a probabilidade de ocorrência de um acontecimento ou situação não desejada, ou seja, um acontecimento, uma ocorrência causadora de dano ou sofrimento.
Como se sabe, a gestão empresarial dos projectos de investimento, contempla e tenta quantificar, sempre que possível, os riscos inerentes ao investimento e ao retorno do capital investido, frequentemente procura a sua estratificação a fim de melhor o avaliar, tanto no plano micro como macroeconómico; por vezes, a avaliação do risco vai até ao pormenor da tomada de decisões individuais, tanto ao nível do planeamento estratégico como táctico e até operacional; por outro lado, é certo que os teóricos da economia, procuram modelos econométricos capazes de realizar previsões e assim minorar os riscos de mercado, isto, desde um simples nível microeconómico do mercado local mas também, passando pelo mercado interno, ou nacional, até ao nível do mercado global; porém, frequentemente, as ferramentas que têm sido usadas para avaliação do risco, tanto económico como empresarial, não têm os estudos de validade que lhes permitam sustentação científica.     
O vigor e a validade dos conhecimentos, estudos e investigação científica, decorrem das relações de causa a efeito; efectivamente, em ciência, entre os vários critérios de causalidade; a força de uma associação causal é determinante. Em epidemiologia empresarial e económica, o risco relativo determina a força da relação de causa a efeito; por outro lado, o cálculo do risco relativo faz-se a partir das taxas de incidência, mas também pode ser calculado a partir das taxas de prevalência; assim, quando a doença empresarial determina a sua insolvência com falência técnica e de mercado, ou seja, a morte e extinção da respectiva empresa, pois, será calculada a taxa de incidência; quando se trata de uma empresa cronicamente sem lucros, ou até tendo sucessivos prejuízos, pois, será calculada a taxa de prevalência; por analogia também se pode calcular a incidência e a prevalência para todas as situações económicas de mercado que determinam uma economia frágil, ou seja, fraca e doentia; mais uma vez se salienta que as taxas de incidência e prevalência permitem avaliar cientificamente a força da associação entre causas e efeitos que determinam a insolvência e falência de empresas, de mercados e de economias frágeis e deficitárias.

Estudos epidemiológicos económicos e empresariais
Considerando a dualidade conceptual, por vezes antagónica, por vezes dicotómica, por vezes meramente dualista, de todo o pensamento económico, e de gestão, pois, pode-se afirmar que os estudos epidemiológicos conducentes à investigação de causas e respectivos efeitos são muito semelhantes e de aplicação transversal a toda a área do saber económico e de gestão. Sabe-se também, que as probabilidades não surgem apenas como uma relação, ou quociente, entre os casos favoráveis e o total de casos mas, em termos estatísticos, portanto pela lei dos grandes números, as probabilidades surgem como a frequência relativa de um acontecimento; por conseguinte, considerando que as taxas de incidência e prevalência se referem a frequências relativas, pois necessariamente estas quantificam probabilidades de ocorrência de acontecimentos em economia e gestão. Os estudos epidemiológicos investigam a probabilidade de relações causais entre diferentes ocorrências, ou acontecimentos, e são temporalmente classificados de retrospectivos, ou casos-controlos, se vocacionados para o passado; por outro lado, dizem-se de coorte, se vocacionados para o futuro. Os coortes determinam e quantificam o risco relativo, os casos-controlos tentam quantificar uma medida estimativa muito aproximada do risco relativo que se designa por odds ratio; por sua vez, o risco relativo determina a força da relação entre uma causa e o respectivo efeito, daí a sua importância, em ciências económicas e empresariais, na investigação dos factores de risco com a correspondente prevenção primária de ocorrências nefastas e indesejadas capazes de causar perturbações na actividade económica e empresarial de um mercado liberal em concorrência perfeita.

Risco relativo em estudos de coorte
Os estudos de coorte, designados habitualmente como longitudinais, prospectivos e analíticos, consistem em seguir, ao longo do tempo, do presente para o futuro, um grupo de elementos designado coorte. Este tipo de estudos tem a sua maior utilidade para situações agudas e muito frequentes na comunidade, portanto, de elevada incidência. É directamente a partir dos estudos prospectivos, de coorte, que se determina o risco relativo e assim, também, a força da associação entre uma causa e o seu respectivo efeito. Esta metodologia consiste em acompanhar e observar os elementos constituintes de um coorte, constatando que alguns destes elementos são expostos a hipotéticos factores de risco e outros não são expostos; a seguir constata-se que dos expostos ao hipotético factor de risco há alguns que sofrem e desenvolvem certas consequências e outros que as não desenvolvem; por outro lado, considerando os que não foram expostos ao hipotético factor de risco, ainda assim, alguns também irão desenvolver consequências semelhantes às dos que foram expostos e outros simplesmente não desenvolverão essas consequências. Habitualmente, nestes estudos, os dados colhidos pela observação e seguimento são dispostos em tabelas de duas entradas: expostos e não expostos; com consequências e sem consequências. As possíveis situações resultantes são quatro: expostos com consequências (a), expostos sem consequências (b), não expostos com consequências (c) e não expostos sem consequências (d).      
Os cálculos permitem determinar:
Risco para os expostos = a/(a+b)
Risco para os não expostos = c/(c+d)
Risco relativo = Risco para os expostos/Risco para os não expostos = [a/(a+b)]/[ c/(c+d)]= a(c+d)/c(a+b)
Como se pode concluir, a partir da fórmula, ou equação, relacionada com a definição e cálculo das probabilidades, estes resultados dizem respeito, por exemplo, à probabilidade da ocorrência de consequências no total dos expostos e, analogamente, para os não expostos; já o risco relativo fornece a razão relativa destas probabilidades e daí a sua utilidade como instrumento de avaliação da força de associação na relação de causa a efeito. Os estudos de coorte permitem o acompanhamento directo e a observação continuada dos elementos, em estudo, ao longo do tempo; esta característica favorece o rigor e a fiabilidade porém torna estes estudos mais fáceis de realizar nas situações e ambientes onde a incidência das consequências, em estudo, é mais elevada; de outro modo, entre outras contra-indicações, a amostra populacional teria de ser extremamente elevada com graves custos económicos.
 
Odds ratio em estudos de caso-controlo
Nas situações de baixa incidência, ou prevalência, de consequências, é costume desenvolver estudos, longitudinais e analíticos, mas retrospectivos, designados estudos de caso-controlo. O registo em tabelas de duas entradas e o tratamento dos dados, nos estudos de caso-controlo, é muito semelhante aos coortes, porém, agora o investigador parte retrospectivamente das consequências para a exposição e, para isso, recorre a registos prévios, considerados fidedignos. Frequentemente, nos estudos de caso-controlo, a amostra não é representativa por não ser aleatória; estes estudos não são tão robustos nem fiáveis. O risco relativo, como medida da força de associação causal, não pode ser determinado, porém, faz-se uma estimativa através de uma relação designada odds ratio, assim:
Os dados colhidos, nestes estudos, através da consulta a registos prévios, são dispostos em tabelas de duas entradas: expostos e não expostos; com consequências e sem consequências. As possíveis situações resultantes são quatro: expostos com consequências (a), expostos sem consequências (b), não expostos com consequências (c) e não expostos sem consequências (d).
Odds ratio = [exposto com consequências X não exposto sem consequências]/[exposto sem consequências X não exposto com consequências]=ad/bc.
Nos estudos de caso-controlo, o odds ratio, também designado razão de possibilidades, exprime apenas uma estimativa meramente aproximada do risco relativo dentro de um intervalo de confiança; no entanto, apesar das várias fontes de enviesamento, ele é bom para estudar situações raras, eventualmente com vários hipotéticos factores de risco em simultâneo e baixos custos económicos.          
                  
Rastreio da crise económica e empresarial
Se os estudos em epidemiologia económica empresarial, designadamente os coortes e casos-controlos; permitem, no âmbito da história natural da doença económica identificar os factores de risco a fim de, por prevenção primária evitar, atempadamente, a eclosão, a chegada da crise, pois, tal nem sempre é possível; torna-se necessário, frequentemente, desenvolver testes de rastreio capazes de efectuar um diagnóstico precoce a fim de limitar os efeitos devastadores que uma crise económica, ou empresarial, pode provocar. Há vários indicadores do desempenho de uma economia; há vários indicadores, económicos e financeiros, do desempenho da actividade empresarial; nem todos estes indicadores são previsionais e, aqueles que o são, pois, nem sempre garantem a exactidão das supostas previsões; torna-se necessário realizar estudos que, por um lado, validem estes indicadores e, por outro, permitam o diagnóstico precoce, o rastreio atempado das crises; tanto ao nível económico como empresarial. Com o rastreio, ou diagnóstico precoce, dá-se entrada num nível secundário de prevenção, o objectivo deixa de contemplar os factores de risco para abordar a crise económica, ou empresarial, no sentido de limitar e minimizar, atempadamente, os danos que essa crise pode causar. A metodologia dos testes de rastreio é, em termos conceptuais e quantitativos, muito semelhante aos estudos epidemiológicos de coorte ou de caso-controlo.

Testes de rastreio da crise económica empresarial
Por semelhança com os testes de diagnóstico médico, que as pessoas tanto costumam confiar, mais, inclusivamente quaisquer avaliações que uma pessoa individual possa efectuar, considerando também as opiniões emitidas pelos designados peritos ou especialistas na matéria; a realidade dos factos testados, em prol da exactidão científica, aponta sempre para parâmetros como, por exemplo, entre vários outros, a sensibilidade, especificidade e valores preditivos, positivo e negativo.
Primeiramente tem-se um padrão ouro, a partir do qual se valida e afere qualquer outro teste; posteriormente consideram-se os resultados dos testes como verdadeiros positivos, verdadeiros negativos, falsos positivos e falsos negativos; os parâmetros de sensibilidade, especificidade e valores preditivos surgem por relação entre estes resultados. Por exemplo; a sensibilidade é a probabilidade de um teste ter resultado positivo quando a realidade testada é, de facto, positiva; assim, sensibilidade = verdadeiros positivos / total de positivos da população em estudo; a especificidade é a probabilidade de um teste ter resultado negativo quando a realidade é, de facto, negativa; assim, especificidade = verdadeiros negativos / total de negativos da população em estudo.
Os testes de rastreio e diagnóstico, ou seja, todos os indicadores, possíveis ou imaginados, da actividade económica, tanto ao nível de uma economia global como de uma simples empresa individual, podem ser classificados, entre outros parâmetros, de acordo com a sua sensibilidade, especificidade e valores preditivos; conforme predomina um, ou outro, destes parâmetros, assim as indicações do teste para o diagnóstico da situação económica e empresarial. Conforme se deduz imediatamente, o fundamento matemático quantitativo destes testes, por semelhança com os vários estudos epidemiológicos, está nas probabilidades e estatística.

Fundamentos estatísticos da investigação
No âmbito da história natural da doença económica, desde a prevenção primária, com as investigações tendentes a identificar os factores de risco capazes de causar as crises económicas, passando pelo estabelecimento, definição e monitorização de indicadores económicos, ou empresariais, capazes de efectuar testes de rastreio e diagnósticos precoces, até à instituição de tratamento adequado, juntamente com a reabilitação, tendente a eliminar ou, pelo menos, minimizar os danos resultantes da doença económica; a semelhança da investigação epidemiológica é muito elevada; de facto, os conceitos e raciocínios da economia e gestão, sempre impregnados por uma linguagem dualista, por vezes dicotómica, conduzem ao uso de tratamentos estatísticos muito semelhantes. A analogia comparativa entre as fórmulas relacionadas com as definições matemáticas e os respectivos cálculos de probabilidades, quando confrontada com os estudos de investigação epidemiológica, revela uma semelhança bem patente e muito acentuada; é esta semelhança que fundamenta o uso das ferramentas matemáticas, estatísticas e probabilísticas, nas investigações epidemiológicas empresariais e económicas.
Nas situações em que se pretende investigar, ou determinar, os factores de risco, por exemplo, nos estudos prospectivos de coorte, para estabelecimento do risco relativo e, por inerência, da força de associação das relações de causa a efeito, costuma-se efectuar o tratamento dos dados com testes de inferência estatística do tipo McNemar; já nos estudos retrospectivos de casos-controlos, cujo risco relativo é estimado, o tratamento estatístico costuma ser realizado através da regressão logística. Efectivamente, a técnica estatística de regressão logística teve, desde finais do século passado, ampla aplicação em várias ciências sociais e humanas, desde as investigações em farmacologia e ciências médicas até a economia teórica, sobretudo no estabelecimento de modelos macroeconómicos próprios da previsão em econometria. Salienta-se a existência de muitos e variados fenómenos cujo mecanismo as ciências económicas e empresariais ainda não conseguem explicar com a força da realidade científica; a explicação destes fenómenos depende, frequentemente, da opinião, sempre volátil, de supostas autoridades na matéria; o uso dos estudos de investigação epidemiológica, em economia, irá trazer uma pujança, uma força, uma credibilidade, muito semelhante aquela que actualmente é detida pela medicina.

Depressão económica empresarial
Quando a prevenção primária falha, quando os factores de risco, causais, entram em contacto com a economia, ou empresa, quando a empresa não tem imunidade suficiente para se defender desses factores de risco agressivos, pois, instala-se a crise, instala-se a doença económica, instala-se a depressão. Numa economia aberta, as crises, recessões e depressões económicas podem ser importadas, ou seja podem surgir através do contacto, e contágio, com as economias parceiras das trocas comerciais; ainda assim, compete aos agentes decisores efectuar investigações epidemiológicas a fim de conhecer os factores de risco e, por conseguinte, definir e estabelecer a prevenção primária adequada. Quando toda a prevenção falha e se desenvolvem os mecanismos patológicos, tenta-se o diagnóstico precoce, finalmente, quando tudo falha, surge a doença económica, a depressão.

Semiologia da depressão económica empresarial
Se, nas empresas, os problemas de insolvência e falência técnica, frequentemente, começam com a tesouraria, eventualmente por falta de liquidez, por incapacidade de enfrentar os credores no momento em que as dívidas vencem, pois, numa economia de mercado concorrencial torna-se de suprema importância a monitorização do produto interno bruto (PIB). Conforme a variação do valor do PIB, assim a linguagem utilizada para classificar o dinamismo económico; assim, se o PIB diminui o seu crescimento, pois, costuma-se dizer que o crescimento económico entrou em abrandamento ou, eventualmente, se mais grave, já se refere como estagnação, ou até, contracção da actividade económica, neste sentido, se o PIB entra em queda durante dois trimestres sucessivos, já se fala em recessão económica; uma queda acentuada do PIB, quantificada, por alguns, como superior a 10% e prolongada por mais de dois anos, pode ser designada como depressão económica.
A semiologia da depressão económica, com os respectivos sinais e sintomas, relaciona-se directamente com a gravidade das variações do PIB em íntima associação com outras variáveis e indicadores macroeconómicos; uma depressão económica grave e profundamente instalada costuma ser socialmente muito florida envolvendo, não apenas, a economia mas também os órgãos de decisão política.
Entre outros, são frequentes sintomas como as crises de confiança, com escassez de crédito e dificuldades no seu acesso com redução das transacções comerciais, baixos níveis de produção e de investimento mas também se verificam sinais de desemprego e respectiva diminuição do rendimento familiar e do poder de compra, normalmente, as taxas de câmbio tornam-se voláteis e a inflação aumenta assim como as insolvências e falências empresariais. O aumento do desemprego, com o respectivo sofrimento imposto pela diminuição do rendimento familiar, mas também, o aumento da ociosidade e dos tempos livres, conduzem a manifestações sociais, com desordem e descontentamento, tendentes a pressionar o poder político; a persistência da depressão económica com desordem e conflitualidade social pode agravar sucessivamente evoluindo para fenómenos próprios dos conflitos bélicos e, por vezes, revolucionários; a mudança da ordem jurídica vigente, assim como de toda a estrutura económica e social, constitui sempre um prognóstico mais reservado para as classes sociais dominantes e detentoras do poder político.

Síntese conclusiva de epidemiologia económica empresarial
Numa economia capitalista ou, de mercado concorrencial; considerando a teoria dos ciclos económicos, sempre com picos e vales, qualquer que seja a duração do ciclo, ainda que a recessão possa ter um carácter permanente e endémico ou, pelo contrario, induzida por uma pandemia global pois, no âmbito da história natural da doença económica, os estudos conducentes à investigação científica das relações de causa-a-efeito, são sempre muito semelhantes. Obviamente, na fase pré-clínica da história natural da doença económica empresarial, procuram-se os factores causais, designados factores de risco, cujo interesse máximo consiste na prevenção primária, os testes de rastreio e diagnóstico precoce procuram, com a prática da prevenção secundária, evitar e combater os danos provocados pelas manifestações da fase clínica; a instituição do tratamento adequado e reabilitação procura, pela prevenção terciária, restabelecer a economia doente e evitar a sua evolução para prognósticos mais reservados. Categoricamente, sobre qualquer ponto de vista, em qualquer nível da história natural da doença económica empresarial depressiva, e da respectiva prevenção; primária, secundária ou terciária, os estudos de investigação epidemiológica são muito iguais pelo que seguem sempre o mesmo protocolo de investigação científica.
Doutor Patrício Leite, 20 de Dezembro de 2018