P vs. NP

 Introdução ao problema P vs. NP

As tentativas matemáticas de resolução de P=NP?

Introdução filosófica ao problema P vs. NP

Os fundamentos lógico-filosóficos da matemática

Os princípios da lógica bivalente

A importância da negação

Outros princípios e categorias tipológicas de lógica

Aplicação da lógica bivalente á resolução do problema P=NP?

O problema P=NP?, como relação lógica de equivalência material

Criatividade: equivalência material disjuntiva

Extrapolação da equivalência material disjuntiva 

Reflexão sobre equivalência material disjuntiva 

Lógica criativa    

 

Introdução ao problema P vs. NP

A formalização estruturada do problema P vs. NP teve a sua origem no início da década de 70 do século XX com a teoria da complexidade computacional. Efetivamente: P refere-se ao conjunto de problemas que podem ser resolvidos por algoritmos determinísticos em tempo polinomial; por outro lado, NP refere-se ao conjunto de problemas cuja solução não se consegue encontrar em tempo polinomial mas se a solução for dada, então, a verificação dessa solução já pode ser realizada por um algoritmo determinístico em tempo polinomial. Assim, surge uma confrontação entre a verificação e a resolução de problemas; de tal modo que se P=NP, então todos os problemas em NP também estão em P.

 

As tentativas matemáticas de resolução de P=NP?

Apesar das várias tentativas, até ao momento ainda não se conseguiu provar se, matematicamente, P é igual a NP ou, pelo contrário, se P é diferente de NP. Desde a conceptualização estruturada do problema e respetiva introdução em 1971 que foram efetuadas muitas tentativas de resolução, contudo, até ao presente, a solução do problema P=NP? Ainda não foi encontrada. Em 2010 o Clay Mathematics Institute considerando, respetivamente, a complexidade e importância para as ciências da computação, decidiu incluir o problema P=NP? na lista dos problemas do milênio.

 

Introdução filosófica ao problema P vs. NP

O problema P vs. NP configura uma abrangência que ultrapassa a racionalidade da matemática contemporânea; efetivamente pode ser expandido e extrapolado para todas as áreas da racionalidade científica e do próprio saber inerente ao atual dualismo cultural. Quando, entre imensos outros exemplos, na física como ciência se consideram o positivo e negativo, corporalizados no protão e eletrão; na química a acidez e alcalinidade; na biologia o sexo masculino e feminino; na análise social o individuo e o grupo; nas ciências religiosas o deus e o diabo; na matemática os números ordinais e cardinais; na lógica bivalente os valores verdadeiro e falso corporalizados na informática digital do zero e um; na política da democracia representativa o público e o privado; nas ciências militares o amigo e o inimigo; na sintaxe gramatical das estruturas linguísticas a semântica adverbial das afirmações sim e não que expandem a antítese dos verbos e adjetividade dualística; enfim: tudo parece uma questão de filosofia da linguagem, uma questão de racionalidade cognitiva que contrapõe a capacidade de abstração produtora de nomes e designações comuns e a capacidade de designar e concretizar nomes próprios; porém, o problema é maior, efetivamente, do ponto de vista filosófico, abrange todas as áreas do saber e da cultura, atinge os paradoxos fundamentais do sujeito e do objeto, da igualdade e da diferença, do finito e do infinito, do homogéneo e do heterogéneo, da continuidade e da descontinuidade; portanto, todas as antíteses paradoxais que constituem a base fundamental da história da humanidade. A operacionalização filosófica do problema pode ser assim formalizada:

 - Será o finito igual ao infinito?

 - Será o homogéneo igual ao heterogéneo?

 - Será a continuidade igual à descontinuidade?

 - Será a pergunta igual à resposta?

 - Será o conceito de igualdade igual ao de diferença?

 - Será o sujeito pensante igual ao objeto pensado?

 - … … … … … … … … … … … ….

 - Será a cardinalidade igual à ordinalidade?

 - … … … … … … … … … … … ….

 - Será P igual a NP?

 

Os fundamentos lógico-filosóficos da matemática

O pensamento matemático tem acompanhado, ao longo dos tempos, a linguagem, história e cultura da humanidade. Provavelmente, de acordo com a teoria cientifica atual e a interpretação dos vestígios arqueológicos pré-históricos pois, tudo terá começado com o desenvolvimento da hominização e o aparecimento da capacidade de distinção identitária; com a sucessiva identificação da diferença, a evolução, o desenvolvimento do sistema nervoso e das estruturas cognitivas, terá surgido a capacidade de abstração conceptual, a linguagem rudimentar primitiva e o conceito de número por provável distinção entre um, dois e muitos; os vestígios arqueológicos das antigas civilizações apontam para um desenvolvimento crescente da linguagem e do pensamento matemático que, sucessivamente, acompanhou as várias correntes da filosofia. Com a revolução científica a matemática tornou-se o instrumento privilegiado das ciências naturais cujo desenvolvimento, acompanhando a tecnologia, conduziu as revoluções industrial e, posteriormente, informática; entretanto a filosofia da ciência e da matemática, analisando padrões de repetição, presentes em todas as estruturas da linguagem, integrou a lógica nos fundamentos axiomáticos da matemática. A predominância da lógica clássica conceptualizou a bivalência dos valores verdadeiro e falso como uma lógica de primeira ordem, como que, por semelhança com a aritmética, uma ordem natural da lógica; posteriormente, a analogia comparativa com a álgebra conduziu ao estado atual de múltiplas tipologias lógicas, formais e informais, com extensões para lógicas superiores e desviantes; obviamente, numa primeira comparação com a álgebra elementar mas capaz de progredir, analogicamente, para o desenvolvimento de todas as estruturas algébricas, porém, agora, em termos meramente lógicos. A lógica abstrata, enquanto área de estudo das estruturas lógicas, inicia com parâmetros ou valores estruturalmente ligados por operações previamente definidas e axiomaticamente consentidas; posteriormente avança para as propriedades dessas estruturas lógicas como uma lógica universal capaz de categorizar o estudo comparativo entre diferentes estruturas.

O desenvolvimento da lógica foi ensinado nas universidades da idade média com o intuito de ser aplicado ao campo da retórica, enquanto área das ciências humanas; contudo, o crescimento técnico-científico e, futuramente, a utilização massiva da informática, designadamente as novas técnicas de computação quântica, apontam para uma tendência crescente de investigação das estruturas e da ciência lógica; por conseguinte, uma ciência pela qual se podem esperar novos impulsos de desenvolvimento num futuro próspero e promissor.

 

Os princípios da lógica bivalente

O pensamento e a lógica clássica assentam em três princípios ou leis fundamentais, a saber:

Primeiro – Lei ou princípio da identidade, formulado por Parménides e segundo o qual todo o objeto é idêntico a si próprio: uma entidade é o que é, pelo que não é confundível com qualquer outra, assim se diferenciando de todo o resto.

Segundo – Lei ou princípio da não contradição, formulado por Aristóteles e segundo o qual toda a afirmação verdadeira não pode ser, simultaneamente, falsa; toda a afirmação falsa não pode ser, simultaneamente, verdadeira.

Terceiro – Lei ou princípio do terceiro excluído segundo o qual uma proposição é verdadeira ou, então, a sua negação é verdadeira.

Todos os princípios ou leis do pensamento e da lógica clássica assentam numa única operação unária: a negação. Efectivamente, qualquer operação é constituída por símbolos operadores e entradas ou argumentos designados operandos. Em termos de aridade, diz-se que a negação é uma função ou operação unária porque esta apenas tem um operando; porém, entenda-se, a negação pode negar qualquer um dos dois valores lógicos mas também qualquer uma das operações lógicas. O conjunto de valores veritativos da lógica clássica, bivalente, é constituído apenas pelos valores: verdadeiro e falso; por conseguinte, aqui, a função ou operação negação assume uma propriedade única que efectua a correspondência transformadora entre domínio e contradomínio, entre verdade e falsidade; no entanto, ressalve-se, a negação pode ser aplicada a si própria (dupla negação) mas também a outras operações da lógica proposicional como a conjunção, disjunção, implicação ou equivalência material. A lógica bivalente, porque apenas aceita dois valores veritativos, assume aplicação imediata e fundamental numa matemática finita de aplicação informática digital; efectivamente, qualquer circuito elétrico tem apenas dois modos de funcionar: passa ou não corrente elétrica. A passagem de corrente elétrica assume um dos valores veritativos e a não passagem assume o outro. Esta dualidade digital fundamentou a aplicação matemática da lógica bivalente a uma ciência informática em desenvolvimento cujos resultados tecnológicos se concretizam na vivência quotidiana da humanidade.

 

A importância da negação

A negação é, não apenas, a operação mais importante de toda a lógica bivalente, mas também, a operação fundamental de todos os sistemas lógicos conhecidos. Esta operação, a negação, poderia ser dicotomicamente categorizada nas formas directa e indirecta: A forma directa e abstracta da negação constitui uma propriedade conceptual da etapa do desenvolvimento cognitivo no qual, actualmente, se encontra a humanidade. Um animal, quando aparenta fazer escolhas, não parece conceptualizar a negação directa do objecto rejeitado como, pelo contrário, se verifica nas crianças ao longo da sua aprendizagem e do seu desenvolvimento cognitivo; efectivamente, o animal, ao escolher, inclina-se tão-somente para o objecto com maior força atractiva sem conceber qualquer negação conceptual desse objecto excluído; mais, os objectos inanimados do mundo real, nem sequer têm força anímica, eles realizam os seus movimentos concretos, não por qualquer escolha interna, conativa ou volitiva, mas tão-somente em obediência ao que o consenso actual da ciência designou como princípio da energia mínima. A forma indirecta da negação emerge da identificação concreta de qualquer entidade, pois, por exclusão de partes, quando se identifica uma entidade, está-se indiretamente a negar tudo aquilo que não foi identificado; a exclusão de partes, enquanto fundamento da negação indirecta, é uma mera inferência humana resultante da sua imensa capacidade de raciocínio abstracto a partir de uma crença enraizada na lógica bivalente que é, assim, assumida como certeza absoluta; porém, atente-se, nem todos os sistemas lógicos aceitam a validade da lógica bivalente; por exemplo: negar “isto é uma maçã” pois, tal não significa que seja toda e qualquer coisa que não é maçã; acrescenta-se que a dupla negação, ou seja, a negação da negação, também não restitui a identidade primeiramente negada. A exclusão da negação, como uma regra operacional instituída pelos princípios ou leis fundamentais da identidade, não contradição e terceiro excluído; pois, imediatamente, invalida toda a lógica bivalente.

 

Outros princípios e categorias tipológicas de lógica

O estudo das ideias, do pensamento e da lógica parece ter acompanhado a filogenia primitiva do desenvolvimento cognitivo humano: na história evolutiva das estruturas do pensamento, conforme o homem se voltava, cada vez mais intensamente, para si próprio; conforme o homem se ia tornando, cada vez mais, objecto de si próprio, objecto da sua observação; conforme o homem, cada vez mais, se fundia no sujeito e objecto da sua própria análise, da sua síntese e da sua dialética; pois, também, independentemente do conteúdo das ideias, mais estruturava, categorizava e isolava as estruturas do pensamento. Inicialmente, as estruturas da lógica formal, mas também da lógica material, ou informal, e da lógica proposicional, foram discutidos e difundidos nos trabalhos de Aristóteles; ao longo da história do pensamento, foram surgindo melhoramentos, porém, sempre eivados pelos princípios ou leis fundamentais da identidade, não contradição e terceiro excluído, numa axiomática persistente mas, simultaneamente, desenvolvida com a finalidade prática da retórica discursiva e argumentação filosófica. Com o decurso do pensamento moderno a lógica simbólica evoluiu para a aplicação matemática e, já na contemporaneidade, também para a computação numa actualização permanente que procura encontrar nos algoritmos de programação lógica o fundamento da inteligência artificial.

As tipologias lógicas, entre várias classificações possíveis, têm resultado das definições conceptuais que enformam as regras ou princípios, os valores lógicos e, finalmente, as operações ou conectivos. Considerando a sistematização aristotélica da lógica clássica, pois, o grande desenvolvimento lógico tem-se, sucessivamente, baseado nos princípios ou leis do terceiro excluído, da não contradição e da identidade; porém, em oposição antitética, têm surgido tipos de lógica em negação de alguns destes princípios: a lógica paraconsistente nega o principio da não contradição, já as tipologias paracompleta e difusa negam o principio do terceiro excluido. Outras categorias como, por exemplo, a lógica modal e a lógica do conhecimento, procuram agregar princípios em complemento da lógica classica; as lógicas trivalente, tetra ou pentavalente, reconhecem que apenas os  dois valores veritativos (verdadeiro e falso) da lógica bivalente não explicam todas as ocorrências pelo que acrescentam mais valores lógicos; pela lógica temporal entende-se que existem situações que requerem novos conectivos ou operadores.

Alguns pensadores modernos têm exprimido a lógica como fundamento de toda a matemática; efectivamente, esta última, enquanto ciência dos padrões,  operacionaliza-se através de regras ou princípios, valores ou variáveis e operações ou relações; por analogia comparativa, também a investigação lógica deve ser operacionalizada pela procura de padrões de repetição capazes de desenvolver novos sistemas, tipos e categorias lógicas.

 

Aplicação da lógica bivalente á resolução do problema P=NP?

Numa primeira abordagem, intuitiva, afirmar que P=NP afigura-se corromper todos os três princípios da lógica bivalente clássica; no entanto, entenda-se, a igualdade não é a identidade! Qualquer igualdade encerra, em si, um paradoxo indissociável, efectivamente, afirmar a igualdade entre duas entidades é, simultaneamente, afirmar a sua diferença, … porquanto, essas duas entidades, sendo iguais também não se confundem uma com a outra e, por conseguinte, são diferentes, … têm identidades diferentes, … na absoluta totalidade ontológica do ser enquanto ser e do ente enquanto ente, pois, cada uma das entidades é o que é, apesar de ambas serem iguais; pela filosofia dialética racional discursiva poder-se-ia chegar a idêntica síntese conclusiva para os princípios clássicos da não contradição e do terceiro excluído. Quando o problema P vs. NP foi estruturalmente enunciado, pois, a sua conceptualização apenas considerou o ponto de vista matemático de aplicação informática, porém, com o decurso do tempo e a dificuldade crescente na consecução da sua resolução, foram sucessivamente efectuadas novas tentativas de resolução lógica, racional, linguística e filosófica; por conseguinte, em termos de hermenêutica filosófica comunicacional da linguagem, parece coerente e consistente interpretar o problema P=NP?, apenas e tão-somente, como o problema P <=> NP?; efectivamente, este conectivo lógico (<=>) pretende significar uma relação lógico-matemática expressa pelas seguintes expressões de linguagem: … se e somente se…, … é necessário e suficiente …, condição necessária e suficiente …, … igual a …; por conseguinte, a relação de igualdade é, agora, em termos de semântica da linguagem filosófica lógico-matemática, interpretada como uma operação lógica tipificada pela relação de equivalência material própria da lógica bivalente.

 

O problema P=NP?, como relação lógica de equivalência material

Considerando P = NP como identitário de P <=> NP então vem,

    P => NP ^ NP => P agora,

sabendo que P => NP = NP v NP

e que NP => P = N(NP) v P vem a seguinte substituição para a equivalência,

    [NP v NP] ^ [N(NP) v P], portanto

    (NP v NP) ^ (P v P) sabendo que, em lógica bivalente, a disjunção dá um resultado verdadeiro quando, pelo menos, uma das proposições for verdadeira; por outro lado, a conjunção dá um resultado verdadeiro apenas quando todas as proposições forem verdadeiras, pois imediatamente, se conclui que esta expressão lógica é sempre falsa. Efectivamente, em lógica bivalente, consultando qualquer tabela de verdade, imediatamente se comprova que tanto importa que P assuma o valor veritativo de verdade como de falsidade, pois, o resultado da expressão: (NP v NP) ^ (P v P) é sempre falso; aliás, nem poderia ser de outro modo; a expressão (NP v NP) ^ (P v P) configura uma tautologia lógica assente em premissas axiomáticas fundamentalmente erradas com regras de inferência racionalmente falaciosas pela incoerência dos seus argumentos. Em lógica bivalente, aceitar que P = NP corrompe imediatamente o principio axiomático da identidade: a intuição ontológica identitária assume que uma coisa não pode, simultaneamente, ser e não-ser.

A filosofia da diferença surge, paradoxalmente, a partir da crença no dogma axiomático que aceita a coexistência da diferença em oposição da unidade. Inequivocamente, desde o momento primordial em que a identidade fica excluída da unidade, pois, qualquer conceito como, por exemplo, o dualismo identitário, enforma uma nova lógica, uma lógica que por aceitar a coexistência identitária simultânea do ser e do não ser, do homogéneo e do heterogéneo, do todo e da parte, da afirmação e da negação, da pergunta e da resposta, da conjunção e da disjunção, da verdade e da falsidade; … pois, também, fica automaticamente excluída dos princípios da não contradição e do terceiro excluído; contudo, salienta-se: para além do dualismo lógico, são possíveis sistemas lógicos pluralistas ou, também, de qualquer outra natureza; numa significativa relevância dos critérios imperativos da vontade sobre a crença e a racionalidade da razão humana.

 

Criatividade: equivalência material disjuntiva

Classicamente, em lógia bivalente, a equivalência material assume propriedades conjuntivas; com efeito, as operações e conectivos da lógica clássica têm o seu fundamento numa operação unária e duas binárias: respectivamente a negação e a conjunção mais a disjunção. Os conectivos lógicos têm, por semelhança com outras operações matemáticas, propriedades como a comutatividade, associatividade, distributividade, etc. a operação negação, não nega apenas valores veritativos mas também operações; pela negação, tornam-se possíveis as interconversões retroactivas entre conjunção e disjunção. A obediência aos princípios da lógica bivalente clássica mas também das respectivas propriedades operacionais inviabiliza completamente a coerência lógica-racional do problema P = NP; porém, a criatividade permite novas soluções. Atenda-se!

Considerando P = NP como identitário de P <=> NP, pois entre muitas e variadas outras soluções criativas, são duas vias de resolução que se pretende agora confrontar: por um lado a equivalência material da lógica bivalente clássica que se designa por equivalência material conjuntiva com P <=> NP a transformar-se em P => NP ^ NP => P cujos valores veritativos assumem sempre como resultado a falsidade; por outro lado uma nova equivalência material, aqui e agora criada, designada por equivalência material disjuntiva com P <=> NP a transformar-se em P => NP v NP => P cujos resultados, em função da lógica bivalente, seguidamente se analisam:

Considerando P = NP como identitário de P <=> NP então, por equivalência material disjuntiva, vem

 P => NP v NP => P agora,

sabendo que P => NP = NP v NP

e que NP => P = N(NP) v P vem a seguinte substituição para a equivalência,

    [NP v NP] v [N(NP) v P], portanto

    (NP v NP) v (P v P) sabendo que, em lógica bivalente, a disjunção dá um resultado verdadeiro quando, pelo menos, uma das proposições for verdadeira; pois imediatamente, se conclui que esta expressão lógica é sempre verdadeira.

 

Extrapolação da equivalência material disjuntiva       

A confrontação entre as equivalências materiais conjuntiva e disjuntiva permite concluir que o problema P = NP como identitário de P <=> NP tem, sempre, como resultado o valor veritativo da falsidade para a equivalência material conjuntiva e o valor veritativo da veracidade para a equivalência material disjuntiva. A extrapolação da equivalência material disjuntiva produz resultados semelhantes em outras áreas da matemática; por exemplo, ao considerar as operações com conjuntos, pois, a união de dois conjuntos é o conjunto formado pelos elementos que pertencem a um ou outro conjunto, já a intersecção de dois conjuntos é o conjunto formado pelos elementos que pertencem a um e outro conjunto: a equivalência material disjuntiva irá considerar a união como a operação disjunta de combinar dois conjuntos na formação de um novo conjunto e a equivalência material conjuntiva irá considerar a intersecção como a operação conjunta de combinar dois conjuntos na formação de um novo conjunto; enfim, uma operação junta e outra disjunta.

Continuando no âmbito extrapolativo da equivalência material disjuntiva pois, a conjunção e disjunção de condições também pode ser aplicada a outras áreas da matemática como, por exemplo, na representação de equações e inequações com resultados, sempre, semelhantes.

 

Reflexão sobre equivalência material disjuntiva 

A lógica bivalente clássica assenta num paradoxo fundamental; efectivamente, pela bivalência desta lógica, pois, os dois valores lógicos admitidos: verdadeiro e falso, têm a sua origem num único valor que, pela operação unária da negação, se transforma no outro valor oposto e complementar. A identidade é, enquanto tal, pelo reducionismo eidético à sua essência filogénica, uma continuidade da ideia; por outro lado, a negação quebra essa continuidade da ideia para, em termos da lógica meramente bivalente, transformar o valor lógico considerado, exactamente, no seu complementar oposto. A negação é uma operação que quebra a identidade, que transforma aquilo que é naquilo que foi … ou, então, aquilo que foi naquilo que é; esta quebra da continuidade, esta fragmentação da essência identitária, gera um paradoxo entre a continuidade da identidade e a fragmentação do mundo. Atentando na comparação imediata entre equivalência material conjuntiva e disjuntiva; pois, o que se destaca é a mera operação de negação sobre o operador ou conectivo lógico da conjunção para, em termos da lógica bivalente clássica, produzir a disjunção; efectivamente, a equivalência material disjuntiva resulta estritamente da aplicação da operação de negação da conjunção que relaciona, classicamente, as duas implicações formais: P => NP ^ NP => P para P => NP v NP => P.

Os fundamentos metodológicos do conhecimento científico: observação – hipótese – experiência têm, na hipótese, a relação de causa a efeito, de antecedente a consequente. A hipótese científica traduz-se, em termos da logica clássica bivalente, por uma implicação formal: se causa então efeito. Agora, sabendo que a equivalência material da logica clássica significa uma conjunção igualitária bilateral entre causa e efeito, pois, tal equivalência, a verificar-se verdadeira, significaria uma confusão paradoxal entre a causa e o efeito, numa negação do princípio científico entrópico que enforma a unidireccionalidade da seta do tempo. Em última instância, em termos dos fundamentos lógicos da racionalidade científica, o princípio termodinâmico que afirma o aumento unidirecional da entropia tem a sua base lógica bivalente clássica na implicação formal como conectivo ou operação que relaciona unidireccionalmente a causa e o efeito, o antecedente e o consequente, numa sequência ordenada única e exclusiva de uma, e só uma, das duas permutações que são permitidas com dois elementos. Por outro lado, a equivalência material disjuntiva mostra, claramente, na sua tabela de verdade, que o valor veritativo de verdade se verifica sempre que ocorre uma das duas implicações formais igualitárias bilaterais que a constituem, numa clara negação da unidireccionalidade entrópica da seta do tempo que enforma a racionalidade científica da termodinâmica tradicional. A negação contestatária da unidireccionalidade da seta do tempo iniciou com a teoria da relatividade que correlaciona o espaço e o tempo numa única unidade física; contudo, o limite imposto pela máxima constante da velocidade da luz, transforma a observação dos fenómenos presentes numa simples observação do passado, mais discernível na astronomia científica mas também, em última instância, da racionalidade filosófica aplicada a qualquer fenómeno da realidade física observável. A teoria física como ciência, tende a negar o tempo e respectiva unidireccionalidade como uma dimensão necessária para a sua compreensão; efectivamente, a eclosão e desenvolvimento da teoria da complexidade, quando aplicada a totalidade objectiva do ser enquanto ser, tende a rejeitar a unidireccionalidade causal da seta do tempo, numa necessária inclusão da equivalência material disjuntiva como fundamento lógico racional da complexidade científica; neste contexto, o problema P = NP inclui a complexidade da matemática e respectiva teoria científica computacional, numa clara necessidade da equivalência material disjuntiva como capaz de explicar a sua veracidade lógica formal.                            

 

Lógica criativa

A lógica, a matemática e as ciências, em geral, partem de princípios e constantes para explicar, compreender e apreender, a variabilidade da mudança encontrada nos fenómenos da realidade. Também, os inquestionáveis dogmas das religiões, mais não são do que princípios e constantes de verdade; a questão da interrogação é já uma constante, um princípio; porém, … não será a interrogação interrogável? Desde o devir mutacional de Heraclito que a mudança que muda, impõe a sua presença, porém, em toda a actividade humana, os métodos constituem regularidades que funcionam como constantes da mudança que muda: a dialética dos contrários fornece uma constante metodológica para a reflexão filosófica; o método científico fornece uma constante para a produção de conhecimento técnico-científico. Além da metodologia produtora de determinado tipo de conhecimento também, por norma, as ciências partem de constantes, leis e princípios fundamentais referenciais estáveis que, em matemática se designam por axiomas; porém, apenas a criatividade, apenas a criação criativa, consegue efectivamente introduzir nova novidade na mudança que muda, na variação da variabilidade, na paradoxalmente incompreensível infinita infinidade: a matemática e a lógica criativa fundamentam-se em axiomas e princípios que mudam; não uma mudança ao longo do desenvolvimento histórico filogénico destas ciências, não uma mudança prévia ao princípio ou início de qualquer processo; porém, sim, uma mudança que muda, um processo de mudança que também muda ao longo do seu próprio desenvolvimento processual. A introdução de princípios e regras axiomáticos ao longo de qualquer processo racional lógico matemático promove, efectivamente, uma mudança criativa; abandona a redundância falaciosa tautológica que favorece uma racionalização defensiva cujo destino é, ainda antes de iniciar o processo, já conhecido; para, efectivamente, produzir criatividade inovadora. O ser humano é finito, as suas capacidades são finitas, sim, finitas e limitadas porém, no domínio da racionalidade humana é possível ir mais longe; os escassos métodos de raciocínio que a matemática tem usado limitam, ainda mais, as limitações finitas da capacidade humana; só uma matemática criativa pode ir mais longe; só uma matemática criativa consegue explicar o problema P = NP?

Doutor Patrício Leite, 15 de Julho de 2024