A história do pensamento humano contempla, desde muito cedo, as três fases da dialéctica como metodologia de raciocínio argumentativo, obviamente, a filosofia do conhecimento sempre as aplicou no avanço sobre a realidade cognoscível; entretanto, em finais do século XIX, a psicologia, enquanto área do conhecimento, inicia uma separação progressiva da sua anfitriã filosófica; surgem, então, vários métodos de abordagem da mente humana; pela tese inicial, a corrente psicanalítica alemã impõe-se com relevo e prevalência dominantes; por antítese dialéctica, a corrente alternativa do behaviorismo comportamental inicia um combate feroz contra a teoria psicanalítica; em meados do século XX, com o auge do antagonismo antitético, o comportamentalismo radical norte-americano apenas admitia o ambiente externo como condicionante do comportamento humano, negava, pois, a liberdade da vontade e a inerente responsabilidade como variáveis internas e instâncias mediadoras capazes de influenciar a tomada de decisões; contudo, a síntese conciliadora, resultante da observação empírica, impulsionada pelas dinâmicas psicanalíticas, acabaria por se infiltrar com a teoria cognitiva: foi a aplicabilidade das distorções cognitivas ao campo da saúde mental que abriu o caminho aos avanços desta perspectiva; porém, foi o conceito de dissonância cognitiva que, primeiro, aguçou a curiosidade humana nesta matéria. A dissonância cognitiva, na estrutura funcional do raciocínio dialéctico, constitui a fase antitética cujos aspectos contrários se afastam; é o conflito interno entre conhecimentos, crenças, atitudes e valores previamente enraizados que, agora, se vêm confrontados com novas opiniões; novas informações capazes de despoletar desconforto, mal-estar e ansiedades causadas pela inconsistência entre as respectivas cognições. Contudo, na marcha do raciocínio dialéctico, previamente, antes da fase antitética, … existe a tese, uma tese sonante, uma sonância de crenças, percepções, teorias e valores coesos que permitem, ao indivíduo, a sua explicação do mundo, a sua integração, … com a chegada da antítese, com a dissonância cognitiva; tudo se desagrega, as coisas perdem significado, perdem sentido, perdem valor, perdem harmonia; gera-se um conflito interno e frustrante que impede a satisfação de necessidades; torna-se necessário restabelecer a consonância, restabelecer a consistência do meio interno em harmonia com o ambiente externo; torna-se necessário eliminar ou reduzir as cognições contraditórias a fim de restabelecer a saciedade homeostática: a pessoa precisa de criatividade, precisa de gerar novas ideias, nova crenças ou pensamentos que lhe reduzam a tensão interior provocada pela dissonância cognitiva conflitual; precisa também de esquecer, modificar ou reduzir a importância das crenças antigas pré-existentes agora dissonantes, precisa, finalmente, de acreditar nas novas informações que lhe são transmitidas do exterior; por conseguinte, a pessoa precisa de uma síntese consonante que complete o método dialéctico trifásico: sonante – dissonante – consonante.
A
teoria da dissonância cognitiva, agora, amplificada pela aplicação do método
dialéctico, ajuda a resolver muitos problemas emocionais, no entanto, na área
da saúde mental, continuam a verificar-se imensos fenómenos polémicos que esta
teoria não consegue explicar. Por exemplo, empiricamente, após uma grave
contrariedade problemática, as pessoas afirmam que se deve “dormir sobre o
assunto”, ora, isso, mais não é do que impedir a repetição reiterada de um
pensamento amplificante desse problema percepcionado; mas também, quando se
afirma que a pessoa exagera fazendo “tempestade num copo de água” pois, isso,
mais não é do que manifestar o resultado da acção amplificadora que a
ressonância cognitiva dos raciocínios e pensamentos repetidos tem sobre a
consolidação de crenças preexistentes. Efectivamente, por psicanalogia
metafórica com a física da acústica ondulatória, pois, também, a funcionalidade
das estruturas cognitivas assume um carácter repetitivo oscilatório; com
efeito, todos os seres humanos repetem pensamentos e raciocínios com
periodicidade, duração, amplitude e frequência natural própria; estas
oscilações cognitivas harmónicas podem ser amortecidas por atritos
comportamentais ou, pelo contrário, amplificadas por estímulos internos ou
externos. Quando a frequência da estimulação cognitiva se iguala à frequência harmónica
natural da oscilação do pensamento, raciocínios ou outras estruturas do
conhecimento humano, pois, esta ultima oscilação vai aumentando a magnitude da sua
intensidade e relevância podendo, se previamente não for amortecida, atingir
níveis de quebra ou ruptura fracturante das estruturas cognitivas. A semiologia
psiquiátrica apresenta uma elevada riqueza de sinais e sintomas resultantes das
quebras e rupturas provocadas pela ressonância cognitiva; não apenas as
perturbações do pensamento com abundância dos vários tipos de delírios
psicóticos ou, por outro lado, de conteúdo depressivo, fóbico ou obsessivo,
típicos das perturbações da personalidade, mas também a ressonância cognitiva que
provoca alterações do conteúdo senso - perceptivo, do humor e do comportamento
psicomotor, … a ressonância cognitiva constitui, definitivamente, um dos mecanismos
psicopatológicos da doença mental.
A
utilização criteriosa dos fenómenos relacionados com o amortecimento e
ampliação das oscilações cognitivas, incluindo a respectiva ressonância, permite
ultrapassar factores de risco conducentes à patologia da mente, mas também,
favorecer o restabelecimento da saúde. Quando, desde tenra idade, os pais
observam que os seus filhos se tornam pensativos e temerosos com problemas relacionados
com a vida familiar, como divórcios, desempregos na família etc. pois, cumpre-lhes
amortecer a amplitude da intensidade e relevância que essa frequência de
pensamentos disfuncionais vai, com a ressonância da repetição, adquirindo: basta,
tão-somente, sossegar e esclarecer os filhos mudando-lhes a percepção que os
estímulos relacionados com as discussões parentais proporcionam ou, então,
alterar a frequência dessas discussões de modo a que estas fiquem impedidas de
constituir estímulos sincronizados com a frequência natural de pensamento dos
filhos, por conseguinte, impossibilitando que a ressonância cognitiva se
estabeleça. Por analogia com a física dos sistemas oscilatórios mecânicos,
electrónicos, acústicos etc., pois, a ressonância cognitiva é apenas o processo
que se estabelece num sistema oscilatório cognitivo, cuja frequência natural da
repetição, após prévia sincronização com um estímulo externo, isto é, um fluxo
oscilatório periódico de entrada de informação, ou de qualquer outra cognição
vai, em função da sincronização prévia com a sua frequência natural, absorver
toda essa informação externa amplificando, por conseguinte, a intensidade da
sua própria estrutura cognitiva oscilante até um eventual nível de ruptura e
quebra fracturante; podendo efectivamente, se não for atempadamente controlado,
originar perturbação ou doença mental.
A
teoria da ressonância cognitiva não é apenas um apanágio capaz de explicar
alguns dos mecanismos psicopalógicos da doença mental; efectivamente, também,
em várias situações da vida quotidiana, e até das psicoterapias, se estabelecem
fenómenos de ressonância entre pessoas cujas frequências naturais de
sentimentos, pensamentos e raciocínios repetidos, foram previamente
sincronizados. A paixão do amor, mais não é do que um estado de ressonância
cognitiva e afectiva; efectivamente, durante as fases do enamoramento, é estabelecida
a sincronização oscilatória entre as frequências naturais de repetições cognitivas
e afectivas relacionadas com os respectivos objectos de desejo e amor; conforme,
paulatinamente, a sincronia e respectiva paixão se estabelecem, pois, também,
assim se consolida a ressonância cognitiva amplificante das qualidades dos
objectos de amor: é a exaltação das qualidades, é a leveza do ser, são as
facilidades da vida, é o engrandecimento entusiasmado do objecto de amor, mas
também do self, numa facilidade de
vida futura comum, de outro modo inimaginável; a paixão do amor é o culminar de
uma sincronização amplificante das oscilações naturais, afectivas e cognitivas,
de ambas as partes que se amam, numa ressonância que, se não for adequadamente
controlada, pode gerar sofrimento mental. Sabe-se que a paixão se faz
acompanhar de uma maior influenciabilidade e sugestibilidade entre as
respectivas partes envolvidas; como se estas estivessem numa influencia
hipnótica mutua e recíproca; contudo, em matéria de influência pessoal, o
hipnotismo pressupõe uma fase prévia, cujo estabelecimento de rapport permite a sincronização dos
estados mentais com focalização crescente da atenção nas sugestões repetidas
que, emanando do hipnotizador, conduzem ao transe hipnótico como um estado de
elevada ressonância cognitiva. No hipnotismo, assim como nas restantes formas
de psicoterapia, a ressonância cognitiva que se estabelece é manifestamente
controlada; o perigo do uso inadequado destas técnicas reside, essencialmente,
no estabelecimento consolidado de falsas memórias que podem ocasionar comportamentos
aberrantes, constrangedores e capazes de gerar sofrimento mental.
Com
o desenvolvimento das estruturas cognitivas infantis, com as contribuições que
os viés cognitivos, falácias, desvios da lógica e dos raciocínios, distorções e
dissonâncias, entre tantos outros, vieram acrescentar; pois, a teoria cognitiva
impôs-se com foros de cidadania, cresceu e expandiu-se para todas as ciências sociais,
contudo, ainda faltavam explicar os fenómenos repetitivos da vida mental; diz-se
que o ser humano é um animal de hábitos com fenómenos repetitivos do
comportamento, no entanto, é certo e sabido que na vida mental tudo se repete:
são os sentimentos, afectos e emoções, são as ideias, pensamentos e
raciocínios, são as acções, hábitos e comportamentos; enfim, são todos os
fenómenos da vida mental que, eternamente, se repetem em ciclos sem fim; por
vezes são fenómenos comportamentais repetitivos simples, outras, são padrões de
repetição cujos ciclos repetitivos constituem arranjos mais ou menos complexos;
enfim, são as repetições da vida mental que, desde os primórdios da vida e
inícios destas ciências, conduziram os primeiros pensadores, psicanalistas, a
enunciar a compulsão de repetição como excepção ao princípio do prazer;
efectivamente, a repetição de comportamentos, ou respostas repetitivas a
estímulos, não se manifesta apenas em seres humanos mas, sim, também, em
animais, vegetais e todas as restantes estruturas conhecidas de vida. No âmbito
da vida mental, sabe-se que hábitos comportamentais extremamente repetidos,
como andar ou caminhar, correr, nadar etc. mas também memórias de ideias ou conhecimentos
teóricos adquiridas por repetição sucessiva até a exaustão, se mantém para
sempre na permanência do repertório comportamental e cognitivo de cada pessoa.
A super aprendizagem, a aprendizagem para sempre, constitui uma faculdade da memória
cognitiva de conhecimentos, saberes e comportamentos adquiridos por repetição
sucessiva; mas não é uma qualquer repetição: primeiro é necessário sincronizar
a fase, depois é necessário que a sincronização seja estabelecida numa fase que
permita a máxima absorção da informação e sabedoria; é esta repetição sincronizada
numa fase com a máxima absorção de informações, que permite a amplificação por
ressonância cognitiva e, por conseguinte, a memória eterna de uma aprendizagem
para sempre. A repetição simples, mas também, os variados e complexos padrões
de repetição, têm necessariamente características oscilatórias e, muito
frequentemente, também, ondulatórias: frequência, período, comprimento de onda,
amplitude, velocidade, etc. São estas ideias, estes conceitos, estas características
oscilatórias e ondulatórias, que depois de devidamente adequadas, podem ser transpostas
do domínio das ciências físicas para o domínio das ciências mentais; é neste âmbito
analógico, metafórico, comparativo, que se fala em ressonância cognitiva. Em
física ondulatória, é precisamente naquele ponto, naquela fase da oscilação que
permite a maior entrada de energia com menor dissipação, que pode ocorrer, a
partir de um estímulo externo sincronizado e repetido, o acrescento acumulado
de energia capaz de gerar o respectivo fenómeno de ressonância; em ciências
mentais ocorre precisamente o mesmo fenómeno de ressonância, não com a simples
e mera energia mas sim com estímulos de informação, com entrada repetida de ideias
e conhecimentos previamente sincronizados.
No
quotidiano da vida sucedem, frequentemente, ocorrências, coincidências e interacções
pessoais tidas como fenómenos de carácter algo estranho e inexplicado; algumas
pessoas atribuem estas ocorrências ao mero acaso, outras a fenómenos paranormais,
outras não lhes atribuem qualquer causalidade mas também nem sequer valorizam:
relata-se como frequente a situação de uma pessoa que, por vezes, ao caminhar descontraída
na rua, num local público qualquer e indefinido, prestando, casual e
inconscientemente, atenção focada e concentrada na pessoa que imediatamente caminha
à sua frente, pois, esta volta-se para trás para, interpretadamente, ver quem a
está a seguir; a causa deste fenómeno, tido por frequente, é por vezes atribuída
a telepatia, transmissão de pensamento ou outros fenómenos descritos como paranormais;
porém, pela razão lógica do raciocínio humano, torna-se mais coerente, atribuir
tal categoria de fenómenos a uma crescente sincronização harmónica e
inconsciente das passadas e outros ruídos, entre as duas pessoas; de tal modo
que a repetição sincronizada do ruído das passadas e de outros fenómenos físicos
correlacionados, fenómenos estes que, pela percepção sincronizada e respectiva
ressonância cognitiva, aumentam de amplitude mental até atingirem, por
momentos, um nível crítico que desperta a atenção da pessoa. A história do
pensamento psicanalítico serviu para explicar fenómenos até aí ignorados ou
tidos como pouco importantes ou, então, simplesmente, como obra do acaso: foram,
entre outros, os actos falhados, os sonhos, as associações livres etc., pois,
também, agora, muitos dos designados fenómenos paranormais, têm sido
insuficientemente esclarecidos, têm sido explicados com base em ideias meramente
aberrantes e desenquadradas do ambiente cultural em que nos movemos; carecem,
pois, de uma teoria capaz de gerar coerência global sobre a sua causalidade científica:
com a sincronização mental e a ressonância cognitiva torna-se, precisamente, concebível,
uma coerência teórica na explicação científica dos fenómenos paranormais. Efectivamente,
reconhece-se que os fenómenos mentais do comportamento humano: emoções, afectos
e sentimentos; cognições, ideias e pensamentos; acções, actos e movimentos; todos,
todos têm carácter repetitivo; esta repetição dos fenómenos mentais assume uma
regularidade harmónica que, por analogia com a ciência física, pode ser
descrita como fenómeno periódico com propriedades ondulatórias, cíclicas ou
oscilatórias. As propriedades mentais, oscilatórias e ondulatórias de regularidade
harmónica, podem ser amortecidas ou amplificadas pela aplicação de estímulos
externos, punições ou recompensas, reforços positivos ou negativos; quando a aplicação
de estímulos externos tem, também, repetição cíclica ou periódica, pois, esta
aplicação externa pode ser sincronizada com a respectiva propriedade mental conduzindo
ao, designado, fenómeno de ressonância cognitiva. Com efeito, na sequência de
uma sincronização entre acontecimentos cíclicos ou periódicos; ou seja, o estímulo
do ambiente externo e a propriedade mental do ser humano, pois, a respectiva propriedade
mental com características periódicas pode, assim, ter as suas características amortecidas
pelo atrito do obstáculo ou estímulo com dissipação de energia que a punição ou
reforço negativo proporcionam ou, pelo contrário, amplificadas pelo acrescento
sucessivo de energia no exacto momento da fase cíclica em que a energia positiva
do estímulo é mais absorvida e, obviamente, com o menor dispêndio causado pelo
atrito; a amplificação sucessiva das oscilações harmónicas sincronizadas pode
ter como resultado final o fenómeno da ressonância cognitiva. Os conceitos e fenómenos
da sincronização mental e da ressonância cognitiva, aqui sucintamente tratados,
tanto podem ser abordados isoladamente como em conjunto funcional; em qualquer
das situações, o seu uso e aplicação no domínio das psicoterapias e das ciências
mentais conseguirá sempre maiores benefícios para a compreensão teórica e aplicação
prática na melhoria das situações de vida e da saúde mental.