Critica do método científico

Introdução

A sociedade contemporânea atribui um crédito significativo ao desenvolvimento técnico-científico. A ciência tornou-se moda, mas não só, o mundo acredita na ciência como um valor absoluto, um conhecimento, uma sabedoria que tudo resolve.  A grande maioria das pessoas acredita cegamente na ciência, nem sequer sabe como o conhecimento científico é produzido mas, simplesmente, acredita. A ciência, com os seus dogmas, premissas, axiomas e paradigmas, tornou-se na religião dos tempos modernos; contudo, a ciência e a produção do conhecimento científico erram à partida; o conhecimento científico é produzido por um método errado, um método inadequado, um método cuja produção de conhecimentos, nunca teve, não tem nem possui, a certeza, precisão e exactidão que habitualmente lhe são atribuídas. O conhecimento científico é apenas o resultado de uma sabedoria produzida pelo método científico; contudo, outros métodos produzem outros conhecimentos e, acima de tudo, são todos válidos, todos têm o seu interesse e utilidade para a humanidade. A técnica e a tecnologia são muito anteriores à criação do método científico e sempre se desenvolveram, evoluíram e serviram a humanidade; a moderna ciência técnica não é melhor do que a técnica adquirida pelos métodos clássicos; o actual estado da tecnologia é apenas uma consequência evolutiva do respectivo desenvolvimento e nada tem a ver com o método científico ou respectivo conhecimento. Efectivamente, é fundamentada em erros, falácias e falsos axiomas que a ciência actual se tem produzido. A base estrutural do método científico, assente na observação – hipótese – experiencia, compreende toda a categoria de enganos, dogmas e preconceitos que se possa imaginar; a coerência transcendental da razão humana permite raciocinar, elucidar e discorrer sobre as três componentes fundamentais deste método; efectivamente, a observação resulta, em última instancia, do contacto entre os órgãos dos sentidos e os estímulos externos; a hipótese depende da razão e raciocínios humanos; a experiência resulta da prática numa actuação comportamental sobre a envolvente ambiental. A conjugação das três etapas: observação – hipótese – experiencia, fundamenta o método científico como modo de produção de conhecimentos cujo resumo crítico, agora, se articula.

Observação

O organismo humano tem, de acordo com a descrição clássica, cinco órgãos dos sentidos: visão, audição, tacto, olfacto e gosto ou paladar. É por estes órgãos que entra toda e qualquer informação proveniente dos objectos externos. Efectivamente, os mecanismos cognitivos: sensação – percepção – interpretação – compreensão etc., são mais complexas; contudo, é pelos órgãos dos sentidos, enquanto órgãos das sensações externas, que são recebidos os estímulos externos, cujo processamento interno conduz a informação e conhecimento. Neste sentido pode-se, desde já, avançar que toda a sabedoria e conhecimento, cognitivamente processado, que a humanidade tem, actualmente, á sua disposição, aponta, toda, para a necessidade de mudança, alteração ou variação do meio externo como fundamento primário do estimulo que vai, nessa sequência, impressionar os receptores dos órgãos dos sentidos e produzir a sensação; ou seja, é na variabilidade, na mudança, na mutação, no movimento, no devir, que está o fundamento do estímulo capaz de, alterando o receptor sensorial, produzir uma sensação. Sem variação do meio externo não há sensação; se o mundo fosse estático, ou simplesmente existisse uma mudança constante e permanente, uma permanente e constante mudança; pois, não existiria estímulo capaz de impressionar os órgãos dos sentidos; é na variabilidade, na mudança que também muda, na alteração da mutabilidade do devir, que está o primado, a “fonte” primordial, capaz de gerar estímulos que vão alterar os receptores dos órgãos dos sentidos gerando, como resultado, uma sensação; mas a mudança constante ou a constância na mudança, como que “habitua” os receptores sensoriais que, por isso, deixam de produzir estimulo ou sensação, assim, sem a variabilidade da mudança não existe estimulação dos receptores sensoriais e, por conseguinte, não há sensação. Os estímulos capazes de estimular os respectivos receptores sensoriais revestem uma natureza, em última instancia, física e química: as sensações visuais resultam da variação de ondas físicas electromagnéticas; esta variação gera um diferencial electromagnético estimulante e capaz de impressionar os cones e bastonetes como células receptoras primordiais da retina que vão produzir um influxo nervoso responsável pelas sensações visuais; as sensações auditivas resultam de vibrações mecânicas do ar cuja variação de pressão mecânica reverbera amplificadamente ao longo do canal auditivo externo até atingir a membrana do tímpano cuja vibração, por sua vez, faz mover um sistema constituído pelos ossículos do martelo, bigorna e estribo até atingir as células ciliadas que funcionam como mecanorreceptores capazes de gerar um influxo nervoso responsável pelas sensações auditivas; a sensação do tacto resulta da variação externa de propriedades físicas capaz de gerar estímulos de pressão táctil, térmica, dolorosa, etc. os receptores capazes de gerar influxo nervoso responsável pela sensação táctil localizam-se em mecanorreceptores corpusculares ou terminações nervosas livres; os estímulos responsáveis pelas sensações do gosto ou paladar e do olfacto têm uma natureza essencialmente química mas também conjugada com a variação de algumas propriedades físicas detectadas por uma variedade de mecanorreceptores, termorreceptores etc. Na natureza, todos os seres vivos, inclusivamente os humanos, têm uma capacidade limitada de responder a alterações do ambiente externo; por conseguinte, abaixo de um certo nível, qualquer variação do meio externo, simplesmente, não é captada; por outro lado, acima de um certo nível, torna-se indistinta, nociva ou até prejudicial, inclusivamente, para a própria sobrevivência. As alterações do ambiente que são capazes de gerar estímulos externos, desde que localizadas entre determinados níveis, são detectadas directamente pelos órgãos dos sentidos; por exemplo, de acordo com a teoria científica actual, para a sensação visual, as ondas electromagnéticas localizadas no espectro da luz visível, têm um comprimento de onda que varia entre os 370 (violeta) e os 750 (vermelho) nanómetros; as ondas mecânicas de pressão sonora capazes de gerar estímulos auditivos, localizadas no espectro audível, têm uma frequência que varia aproximadamente entre 20 hertz (som grave ou de baixa frequência) e 20.000hertz (som agudo ou de alta frequência). Considerando o espectro visível pelo olho humano, as ondas electromagnéticas de comprimento inferior a 370nm dizem-se na zona do ultravioleta e as superiores a 750nm dizem-se na zona do infravermelho; por outro lado, considerando o espectro audível pelo sistema auditivo humano, pois, os ruídos cujas frequências sonoras são extremamente graves ou estão abaixo de 20Hz são chamados de infrassom e os ruídos cujas frequências sonoras são extremamente agudas ou estão acima de 20.000Hz são chamados de ultrassom. Toda e qualquer mudança ou alteração do ambiente externo que ocorra dentro dos limites das capacidades humanas, pois, pode ser observada directamente pelos respectivos órgãos dos sentidos: visão, audição, tacto, olfacto e gosto ou paladar; por outro lado, as variações ou alterações que ocorram fora destes limites; por exemplo nas zonas ultravioletas, infravermelho, ultrassom ou infrassom, pois, terão de ser captadas por instrumentos ou aparelhos apropriados e depois transformadas em novas alterações ambientais físicas ou químicas que funcionam como estímulos, os quais, por sua vez, já serão capazes de impressionar os órgãos dos sentidos humanos. Em última instancia, o ser humano apenas é capaz de observar e captar mudanças ou alterações do ambiente externo a partir e dentro dos limites permitidos pelos seus órgãos dos sentidos; por conseguinte, torna-se imprescindível a necessidade de recorrer a instrumentos tecnológicos para captar alterações ocorridas fora dos limites de captação directa pelos órgãos dos sentidos humanos. A observação dos fenómenos externos implica, sempre, inexoravelmente, um erro, um engano, um desvio da objectividade pretendida. Considere-se o exemplo, simples, analógico e elucidativo, de uma pessoa que funcionando como observador, se desloca de noite, numa rua escura e muito mal iluminada quando lhe parece vislumbrar, ao longe, um vulto indistinguível e afirma para consigo própria: “ trata-se de um cão, … é o meu cão, …”. Agora, analisando algumas possibilidades de erro e engano, tem-se: a pessoa vislumbra um vulto que verdadeiramente existe; a pessoa vislumbra um vulto que verdadeiramente não existe; a pessoa afirma tratar-se do seu cão quando é, efectivamente, o seu cão; a pessoa afirma tratar-se do seu cão quando não é, efectivamente, o seu cão. A análise e combinação destas possibilidades definem o nível de sensibilidade e especificidade do observador que conjugada como os falsos positivos e os falsos negativos permite aferir a validade da sua observação mas também outros parâmetros como os valores preditivos, acurácia etc. Tanto a observação directa do exterior como a observação mediada por métodos instrumentais de análise, qualquer que seja, está sempre sujeita a inexactidão, incorrecção, erro ou engano; contudo, na observação mediada por instrumentos de análise, pois, o erro ou engano é duplo, efectivamente, na observação mediada há dois erros, enganos ou inexactidões: um primeiro erro inerente à mediação efectuada pelo próprio instrumento analítico e um segundo atribuído ao observador humano. A observação dos fenómenos ambientais externos comporta, sempre, várias categorias de erros, enganos, incorrecções e incongruências; efectivamente, pela definição conceptual de fenómeno, pois, os dados da observação humana são apenas, tão-somente, a manifestação do fenómeno que é detectável pelo sistema de observação humano, por conseguinte, são apenas aquilo que aparece. Efectivamente, o que aparece, aquilo que se manifesta, não é aquilo que é, mas sim, tão-somente, aquilo que se manifesta, esclarecendo: a coisa em si própria, a essência da coisa em si própria, a essência existencial da coisa em si própria, se tal factualidade existir, não é aquilo que aparece e se manifesta mas poderá ser algo transcendentalmente incompreensível para o actual nível de desenvolvimento das estruturas cognitivas humanas. Desde a emergência primordial do pensamento reflexivo que se discute a polémica antagónica conflitual entre a existência de alguma constância na mudança ou, pelo contrário, a simples mudança que inconstante e imprevisivelmente, muda sem qualquer referencial detectável; efectivamente, desde a emergência do pensamento global e unificador, inclusivamente, até a actualidade, ainda se não conseguiu resolver o problema do todo e a parte; sob todos os pontos de vista, quando o foco de reflexão envolve todo o concebível, fragmentário ou não, pois, nem sequer a visão sistémica, nem sequer a moderna teoria dos sistemas, ainda que conjugada com a teoria da fractalidade matemática, pois, nem assim se consegue resolver o problema da relação entre o todo e a parte. É, pois, transcendentalmente impossível, apreender se existe alguma constância referencial ou, pelo contrário, apenas, a mudança do devir que também muda; contudo, para a mera crítica do método científico enquanto instrumento de produção de conhecimento, a condição necessária e suficiente, reconhece que a observação dos fenómenos resulta, necessariamente, da variabilidade mutável; numa constância estática seria impossível obter qualquer dado de observação e sem a observação também não se poderia prosseguir com a hipótese e experiencia características da metodologia científica. A matemática permite quantificar e medir a variação como sendo a quantidade de variabilidade. A quantificação é, essencialmente, um raciocínio comparativo humano, já a medição implica também na utilização de um instrumento de análise e medida, ambas as operações: quantificação e medição estão, sempre, sujeitas aos erros, enganos e inexactidões, já descritas. Enquanto a variabilidade é reconhecida como uma qualidade; uma qualidade de mudança abrangente, de alteração ou devir do todo e da parte; pois, a variação é uma quantidade, uma quantidade que surge como a diferença entre um estado inicial e um estado terminal; é importante salientar que não se trata de uma diferença sequencial nem uma diferença intervalar entre duas posições no tempo, no espaço ou em qualquer outra grandeza física; as variações sequenciais intervalares são utilizadas pela actividade da actual comunidade científica para, mediante utilização de instrumentos de medida, quantificar a variação. Actualmente a comunidade científica, para cada grandeza física, define uma sequência intervalar de variação tida como o padrão unitário de medição: o metro para distância, o segundo para tempo, o quilograma para massa etc., etc., depois, por mero raciocínio comparativo entre o padrão unitário assumido e o número de vezes que este, comparativamente, se repete, pois, a actual actividade científica estabelece o resultado da medição; acontece que o método do padrão fundamental, o método dos padrões; qualquer que seja o padrão considerado, quando aplicado à observação da variabilidade do todo e da parte, por métodos directamente dependentes dos órgãos dos sentidos ou então, ainda que mediados por métodos instrumentais de análise, pois, está sempre errado, desde o inicio; efectivamente, quando a observação contempla a totalidade, contempla o paradoxo do todo e da parte, pois, essa observação, paradoxalmente, nunca poderá ter um referencial; efectivamente o referencial também muda, indefinidamente, a sua própria mudança; por conseguinte, o observador apenas consegue constatar, movimento, mudança, variabilidade, inconstância, deformação, alteração, … nada mais!

Hipótese

Essencialmente, a observação, directa ou mediada por instrumentos, estabelece uma primeira ligação entre o observador e o observado; contudo, no contexto da mudança que muda, paradoxalmente, o observador nunca consegue captar o observado mas, apenas e tão-somente, a mudança que muda. Cognitivamente, a observação coloca em acção os órgãos dos sentidos com a respectiva sensação; porquanto, a percepção e a interpretação já dependem de alguma actividade cortical superior; assim, a hipótese surge como um juízo racional; uma intervenção de estruturas cognitivas superiores. Um conceito é uma interpretação de uma sensação, porém, uma hipótese vai mais longe, estabelece uma relação entre dois conceitos mas, também, entre dois juízos. Em ciência, a hipótese é uma estrutura racional que promove uma relação causal, uma relação de causa a efeito. Numa dualidade dicotómica entre interior e exterior, poderia ser afirmado que, enquanto a observação resulta essencialmente de uma propriedade do observado, externa ao observador, ou seja, em observação é o exterior que penetra no interior pois, a hipótese é uma actividade interna, uma propriedade daquele que observa, é o interior que analisa, transforma e altera o exterior; contudo, inequivocamente, o dualismo dualista tradicional tem sido a principal fonte de erro em ciência. Efectivamente, desde os primórdios do pensamento filosófico, desde que o homem se tornou verdadeiramente sapiente, duplamente sapiente, pois, os primeiros pensamentos, os grandes pensamentos gregos, antigos, foram sempre dialécticos. Já os primeiros filósofos, pré-socráticos, prenunciavam uma certa dialéctica, uma certa luta de contraditórios; contudo, foi o ambiente cultural dos sofistas que levou a ambivalência dialéctica dos contrários ao seu máximo esplendor; nessa cultura, para esses povos, para a coesão da estrutura social então vigente, pois, a validade dos factos e do conhecimento fundamentavam-se na opinião humana, esta, por natureza, sempre contraditória, porém, os contraditórios assumiam, entre si, igual valor e o conflito era resolvido pelas artes da retórica e da oratória. Nesse ambiente de sofistas que tudo diziam saber, a escola socrática, por contraditório, afirmava que apenas tinha gosto pelo saber, pelo conhecimento; por conseguinte, eram filósofos, amigos da sabedoria; este gosto pelo saber foi, concomitantemente, transmitido aos discípulos e, depois, ao longo do tempo e das gerações alcançou e fundamentou a escola aristotélica que o sistematizou. Nesta sequência, enquanto no ambiente cultural dominado pela dialéctica dos sofistas gregos, o valor da verdade era concedido à opinião que mais conseguia convencer; dai o estudo da oratória e da retórica, pois, para a escola aristotélica a verdade e a falsidade tinham igual valor proposicional sendo a respectiva estrutura lógica, ou seja, a estrutura da lógica bivalente clássica que, pela sua coerência interna, conferia um resultado aceitável. Efectivamente, a verdade e a falsidade, em lógica bivalente clássica têm igual quantidade de valor mas qualitativamente diferente; a valoração quantitativamente igual, resulta da transmissão cultural impregnada pelo pensamento sofista; a valoração qualitativa diferente resulta da transmissão histórica do pensamento filosófico socrático. É neste ambiente cognitivo que, ao longo da história do pensamento humano surge, séculos mais tarde, a hipótese científica como uma relação proposicional da lógica bivalente; efectivamente, a hipótese científica surge como uma relação entre um antecedente e um consequente, uma causa e um efeito. Em ciência, a hipótese surge como uma proposição formal da lógica bivalente pela qual uma causa produz um efeito. Em termos da lógica matemática formal bivalente clássica, a hipótese é uma proposição conectiva condicional que assume a forma: a causa implica o efeito. Esta implicação formal tem a sua coerência lógica relacional com outros conectivos lógicos como a negação, a conjunção, a disjunção, a equivalência material e a disjunção exclusiva. Considerando que “a causa implica o efeito” é apenas uma relação lógica da implicação material, assume-se a consciência automática de que a hipótese científica, como relação de causa a efeito, é apenas uma relação da lógica bivalente clássica; contudo, o raciocínio fundamentado na base da lógica bivalente clássica, contém e comporta um enorme conjunto de equívocos, vieses, falácias e paradoxos, indissociáveis e inultrapassáveis num campo de saber, a ciência, que se pretende da máxima coerência. Em todas as áreas do saber e do conhecimento humano onde se atingem falácias e paradoxos, pois, a lógica bivalente fracassa em estabelecer um corpo de saber coerente; como, em qualquer área do conhecimento humano, caminhando sucessivamente de raciocínio em raciocínio, se acaba por atingir, sempre e inexoravelmente, uma falácia ou paradoxo, pois, conclui-se que os fundamentos da lógica bivalente clássica não conferem credibilidade digna ao conhecimento científico; efectivamente, a ciência é apenas uma forma de conhecimento produzido pela aplicação do método científico e este método é paradoxalmente falacioso, por conseguinte, o conhecimento científico não tem qualquer crédito validamente aceitável. Ainda que a ciência se procure fundamentar na matemática, pois, onde entra a lógica matemática, onde entra a lógica bivalente clássica, falha a credibilidade das conclusões; as demonstrações matemáticas e as respectivas provas axiomáticas, fundamentam-se numa lógica bivalente desprovida de credibilidade; ainda que, matematicamente, seja efectuada uma redução ao absurdo como tentativa de prova, pois, o absurdo é, em si próprio, um absurdo. Considerando os três princípios ou leis do pensamento lógico clássico, pois, pelo princípio da identidade, o absurdo é absurdo, o absurdo diferencia-se daquilo que não é absurdo; o princípio da identidade provoca uma ruptura, uma fenda de descontinuidade entre a continuidade do absurdo em descontinuidade com o restante, em descontinuidade com aquilo que não é absurdo; só assim se pode afirmar que o absurdo é o que é: o absurdo é absurdo; mas esta falácia por circularidade na identidade do absurdo expande-se aos princípios da não contradição e do terceiro excluído; efectivamente, o absurdo, pelo principio da não contradição da lógica bivalente, não pode, simultaneamente, ser e não ser absurdo: ou se aceita que o absurdo é absurdo ou então se aceita, pelo princípio do terceiro excluído, que a negação do absurdo é absurda. Conclusão paradoxal desta circularidade falaciosa da lógica bivalente: o absurdo é absurdo mas a negação do absurdo também é absurda! Torna-se, pois, necessária uma nova coerência lógica; uma nova coerência fundamentada, ou não, no neodualismo lógico. Para validar o conhecimento humano como um todo e, mais especificamente, a coerência do conhecimento científico, torna-se necessário um pensamento, raciocínio e reflexão mais abrangentes. O método científico tradicional, com as suas hipóteses metodológicas baseadas na lógica bivalente clássica, faliu, deixou de produzir conhecimentos válidos. A nova metodologia de produção de conhecimento científico terá de contemplar e integrar novas coerências; não apenas as tradicionais bivalências lógicas mas, também, novas coerências criativas. Para a coerência do conhecimento humano não faz qualquer sentido afirmar que uma proposição ou é verdadeira ou falsa, não faz qualquer sentido afirmar que a negação de uma proposição verdadeira origina uma proposição falsa; efectivamente, a negação de uma proposição verdadeira origina, tão-somente, uma proposição não verdadeira. Uma proposição não verdadeira, também, não é necessariamente uma proposição falsa; de facto, uma proposição não verdadeira é apenas, e tão-somente, uma proposição não verdadeira. O paradoxo dos limites ou fronteiras, típico da lógica bivalente, implica significativamente no nascimento da lógica trivalente como tentativa de ultrapassar esse paradoxo; efectivamente: entre dois limites ou fronteiras existe sempre, sucessivamente, uma sucessão de limites ou fronteiras. Entre o verdadeiro e o falso existe o incerto ou indeterminado; por conseguinte, a lógica trivalente poderia admitir o sim, não e talvez; porém, entre o sim e o talvez, entre o não e o talvez, existe o talvez sim e o talvez não a configurar uma lógica pentavalente; mas os sistemas lógicos não têm necessariamente de obedecer a uma classificação fundamentada no número de valores lógicos; efectivamente há muitos sistemas lógicos e, com pensamento criativo e imaginação, muitos outros se podem criar. Com o neodualismo lógico pretende-se admitir a igualdade da continuidade identitária na afirmação verdadeira mas também a desigualdade, a descontinuidade da não verdade. Afirmar pelo princípio da bivalência que a não verdade é a falsidade é, também, por inerência, colocar uma continuidade identitária na falsidade; ora, a negação de uma identidade não é outra identidade, a negação da identidade verdadeira não é a identidade falsa, a negação da identidade, é sim, tão-somente e nada mais, a negação da identidade: este é um dos princípios da lógica neodualista. Na dialéctica antagónica entre a corrente triunfante do pensamento de Parménides que colocava a continuidade igualitária da estática existencial e por antítese dialéctica, a corrente da transformação dinâmica, mudança e devir, de Heraclito, surge uma primeira síntese configurada num neodualismo lógico segundo o qual a negação da estática não origina necessariamente a dinâmica e, por sua vez, a negação da dinâmica não origina necessariamente a estática: a negação da estática é somente, e tão-somente, a negação da estática e a negação da dinâmica é somente, e tão-somente, a negação da dinâmica. Em lógica plurimonovalente existe apenas um valor lógico que exprime a igualdade da continuidade identitária e a respectiva negação é apenas, tão-somente, a respectiva negação que exprime a descontinuidade descontínua dessa igualdade; a pluralidade descontínua de mono valências significa que cada valência é única, identitariamente única, fragmentada, separada, descontínua, única, … pelo que em lógica plurimonovalente existe a operação negação mas, em termos de conectivos relacionais, não se verificam as operações de conjunção, disjunção, implicação etc. Sem a abstracção da agregação conceptual capaz de produzir substantivos abstractos ou outros elementos linguísticos semelhantes que o pensamento e a linguagem humanos proporcionam, sem conectivos relacionais capazes de produzir relações entre partes desligadas e separadas, sem a possibilidade de formação existencial de um todo único e totalitário, pois, resta a fragmentação identitária, constituída por partes únicas e separadas: pluri-identidades que vão originar a lógica plurimonoidentitária. Efectivamente, a lógica purimonoidentitária é uma lógica plurimonovalente, por conseguinte, constituída por partes identitárias diferentes e separadas sendo que, cada parte, assume uma união identitária totalitária, mas também, cada parte, absolutamente diferenciada e separada de cada uma das restantes; como que cada parte é um substantivo próprio, único e sem nada de comum com cada um dos restantes. É nesta coexistência simultânea entre a continuidade igualitária e a descontinuidade da diferença que se verifica entre cada parte, e as restantes, que se foram inspirar os pensamentos de Eleia com a sua estabilidade contínua e de Éfeso com a sua mutabilidade do devir. Quando o ser humano na sua permanente procura expansionista embate numa barreira intransponível, pois, mais não está do que numa situação de fractura, de descontinuidade, de falha na ligação que lhe permite uma relação entre as partes separadas. O todo, mais não é do que uma parte constituída por uma relação comum entre as partes, uma aspecto de continuidade que liga as partes e quando essa continuidade relacional fracassa, pois, as partes ficam separadas, não se ligam nem se relacionam e por isso, também, não se agregam numa comunidade continua constituinte de uma parte que é o todo. A transcendência, mais não é do que uma barreira intransponível que se coloca ao ser humano, por conseguinte, a transcendência constitui uma separação, uma descontinuidade, entre o todo da esfera humana e as partes separadas. As barreiras que, intransponivelmente, sempre se colocaram, e continuam a colocar, ao avanço do conhecimento cientifico, ou qualquer outra forma de conhecimento, mas também ao avanço da observação, da técnica ou de qualquer outra acção humana, mais não são do que falhas ou quebras na ligação, quebras estas que fundamentam um pensamento de continuidade igualitária do interior identitário da esfera humana e uma descontinuidade diferencial das partes externas; pode-se, pois, conclusivamente afirmar a existência de um interior identitário mas nunca de um exterior único e contínuo; a lógica plurimonovalente, fundamentada em pluri-identidades, em identidades próprias e únicas, é o resultado da coexistência simultânea entre um todo identitário e partes desagregadas ou descontinuamente separadas. A realidade da ciência, cujo método se fundamenta na lógica bivalente, pode produzir conhecimentos válidos dentro de determinados limites finitamente universais, mas nunca conhecimentos validos na descontinuidade da separação das partes; a criação torna-se, pois, imprescindivelmente necessária; só a criatividade humana pode validar o conhecimento.

 Experiência

Com a acção prática da actividade humana sobre o objecto observado, completa-se a tríade clássica do método científico: observação – hipótese - experiência. Se a limitação humana, o erro e o engano convergem numa dissociação entre o observador e o observado, pois, é na experiência que esse engano, essa limitação, esse erro, atinge a máxima magnitude. Efectivamente, o ser humano tem um número limitado, qualitativa e quantitativamente, de órgãos dos sentidos; tradicionalmente os cinco órgãos: olfacto, gosto ou paladar, tacto, audição e visão contêm a totalidade de receptores capazes de receber estímulos externos; as células sensoriais, os diferentes receptores constituintes dos diferentes órgãos dos sentidos, são todos finitos e limitados; por conseguinte, a limitação qualitativa e quantitativa da observação humana é inerente a condição da própria limitação finita. Mais, um ser humano, jamais pode captar e observar uma entidade para a qual não tenha receptores sensoriais; o raciocínio humano tenta ir além do limite observacional, contudo, também tem limitações e as noções de transcendência e limites da razão já foram sobejamente abordadas, estudadas e debatidas pelas diferentes correntes da história do pensamento humano; a acção humana, a prática, contém, simultaneamente, limitações físicas e mentais. Por exemplo, um ser humano desloca-se, sempre, a uma velocidade fisicamente limitada mas também, física e cognitivamente, é impossível conceber a ideia de um deslocamento simultâneo para a frente e para a retaguarda. Para ultrapassar as suas limitações, a humanidade socorreu-se da técnica e da tecnologia. Para observar visualmente uma entidade pequeníssima, minúscula, o ser humano serviu-se do microscópio; para observar estrelas e planetas longínquos que, por isso, se tornam infimamente pequenos, o ser humano socorreu-se do telescópio; acredita que com estes instrumentos amplificadores da observação visual, consegue, realmente, captar a realidade existencial; contudo, engana-se, pois, aquilo que realmente observa é, meramente, a mudança do objecto observado; efectivamente, é a mudança do objecto observado que provoca alterações no receptor instrumental (microscópio, telescópio, etc.) que por sua vez as transforma e responde com o seu output para os olhos ou órgãos receptores do ser humano que, por sua vez, as capta e analisa; desde a origem do fenómeno, é toda esta sequência de transformações, esta sequência de alterações técnicas, que é captada pelos receptores técnicos, transformada pelos instrumentos técnicos e, finalmente, apresentada aos órgãos receptores humanos que, mais uma vez, transformam e enviam para os estruturas corticais superiores analisarem; o resultado de tais transformações é um conceito mental representativo de muitas representações prévias; é com este conceito mental que o cérebro humano trabalha e, por conseguinte, há sempre múltiplos erros, tanto aqueles resultantes das sequências da transformação tecnológica  instrumental como os que resultam das representações conceptuais. A ciência actual é, predominantemente, uma ciência - técnica; por conseguinte, é com a técnica e pela técnica que os fenómenos científicos são produzidos e observados; o observador, o homem, produz a natureza que ele próprio vai, automaticamente, observar e descrever como ciência. A ciência actual é o resultado de um observador simultaneamente por si próprio observado. O homem chama ciência ao simples e mero produto da sua concepção. Em física de partículas e altas energias, o homem parte de uma teoria fundamental nunca comprovada que designa por modelo padrão das partículas fundamentais, depois, monta dispositivos altamente tecnológicos, fabrica grandes aceleradores de partículas, que apenas têm como função manhosa e ardilosa de fornecer a prova tautológica daquilo que o homem quer provar numa racionalidade circular cuja meta é também o ponto de partida. O princípio da incerteza da mecânica quântica ainda admite uma realidade externa, uma realidade que é modificada em função da energia dispendida para a observar; a mecânica quântica usa as probabilidades para limitar essa incerteza, contudo, reiterando, ainda admite uma realidade externa; na verdade, actualmente, a ciência já caminhou para além do princípio da incerteza; a realidade externa não existe; o que existe é sempre uma realidade produzida; uma produção mais ou menos intensa, mais ou menos sofisticada, mas sempre uma realidade simultaneamente produzida e observada pelo seu produtor, ou seja, produzida pelo homem de ciência! A analogia comparativa aqui exemplificada pela física das partículas fundamentais pode, agora, sofrer extrapolação para as restantes áreas do saber e do conhecimento científicos actuais; o resultado é sempre idêntico. Uma ciência, enquanto conhecimento produzido por um método que erra em toda e qualquer etapa da sua concretização, é sempre uma ciência pouco rigorosa, imprecisa, errada. Uma ciência que erra nas etapas fundamentais do seu método: observação – hipótese – experiencia; pode até, dentro de determinados limites, fornecer algumas ideias úteis para humanidade, contudo, essas ideias também poderiam ser obtidas por outras metodologias que não apenas a cientifica; até porque, como já se viu e apontou, é o desenvolvimento técnico que precede e controla o desenvolvimento teórico e científico e nunca o inverso. O grande motor do desenvolvimento está na inventividade e criatividade humana e nunca na metodologia da produção de conhecimento científico.

Doutor Patrício Leite, 13 de Setembro de 2022