Simbolismo em Salvemos a Terra

O filme curta-metragem “Salvemos a Terra” de Patrício Teixeira Leite, revela uma intensíssima carga simbólica indissociável da sua observação, crítica e reflectida, tanto do ponto de vista científico como da actual culturalidade humana.
Desde logo inicia com um planeta Terra cuja irregularidade, exagerada e contínua, nos movimentos de rotação, oscilação e relativamente ao eixo da terra, simboliza o perigoso desequilíbrio e o inerente alerta responsivo que a terra manifesta; o poder da regularidade terrestre, a que se habituou a humanidade, é aqui posto em causa; os movimentos de rotação e translação, reconhecidamente únicos pelas pessoas culturalmente vulgares são, aqui e agora, objecto de contestação já que, cientificamente são atribuídos, pelo menos, cinco movimentos próprios da terra, porém admitem-se outros, ainda por descrever; pensa-se que alguns destes movimentos, designadamente de oscilação, aqui propositadamente com uma exagerada irregularidade, poderão estar associados com as alterações climáticas que o planeta tem sofrido. Evidentemente que se salvaguarda a entrada na polémica da geopolítica mundial, onde os conceitos europeus de ambientalistas esquerdistas que tentam travar o desenvolvimento industrial dos países ricos, imputando-lhes alterações do clima mundial com base numa poluição propriamente humana, ao que, por reposta oposta, a alta burguesia industrial mundial, pretendendo continuar a controlar o poder sobre os homens e as pessoas do planeta, através do desenvolvimento continuado do volume e das rotas do comércio mundial, coloca as responsabilidade pelas alterações do clima em factores não totalmente descritos nem cientificamente conhecidos assim como numa história geológica sempre em mutação climatérica, mais ou menos cíclica, repetida e padronizada no planeta Terra, desde o seu aparecimento e ao longo da evolução.
O que realmente está em jogo no filme de curta-metragem “Salvemos a Terra” não são as polémicas políticas mundiais, mas o facto de todas as facções reconhecerem o aquecimento global e as alterações ambientais que, na opinião de Patrício Leite, já ultrapassaram o ponto de não retorno; esta irreversibilidade condiciona o desaparecimento progressivo da praia, onde a filmagem se realizou, previsto totalmente para dentro de algumas dezenas de anos.
A hermenêutica simbólica interpretativa, provida dos arquétipos próprios de um inconsciente colectivo onírico, avança com o simbolismo psicanalógico inerente ao trompete como um instrumento, dualisticamente conflitante na sua dialéctica simultaneamente musical e marcial, feminina e masculina; a masculinidade sexual do trompete surge como um símbolo fálico erecto, cuja execução musical exige força e vigor da caixa torácica, própria de um homem capaz de manifestamente emitir e exibir a beleza belicamente triunfante de uma musicalidade masculina marcial. Já a harmonia musical, a marcha triunfal de Verdi, surge aqui, associada ao triunfo do poder humano sobre a bestialidade das desconcertantes forças naturais; trata-se de um homem másculo que simultaneamente vence as agruras da natureza Terra mas também da natureza animalesca da vida, numa marcha triunfal que fertiliza a terra sobre o evolucionismo animalesco transitando da sexualidade animal para a sábia cultura da humanidade.
As brincadeiras gímnicas repetidas, na praia, simbolizam a infantilidade e aprendizagem, por tentativa e erro, do desenvolvimento ontológico e filogenético do ser humano ao longo da sua vida única, tanto no plano pessoal individual como numa perspectiva mais alargada da humanidade sobre a Terra, mas a repetição do exercício, com elevação dos braços, também manifesta o louvor de uma sexualidade infantil nascente e capaz de fertilizar a “terra”, aqui areia, enrolada num mar que se pretende afastar da animosidade competitiva.
A musicalidade e o ruído de fundo são essencialmente simbólicos; o filme inicia com umas ondas do mar revoltas, exprimindo assim a agressividade essencial da natureza sobre a humanidade cultural mas também a revolta animista da terra mãe sobre um homem marcial, poluidor e devastador, portanto alegadamente, com medidas que apesar de não quantificáveis, nem sequer tidas como certezas, se revelam agentes da modificação do clima mundial; a modulação sonora, presente ao longo de todo o filme induz, sobretudo quando o homem simbolicamente segura a terra, um silêncio de paz e harmonia significativas, um silêncio semelhante aquele que se observa quando os astronautas habitam o espaço extra terrestre; é que no espaço celestial predomina a paz do silêncio, na realidade os sons e ruídos são meramente ocasionais e típicos do ambiente citadino humano pois, diminuem na ruralidade e tornam-se ausentes no espaço interestelar.
O som das gaivotas, quando existe, revela outras formas de vida a colonizar e habitar o planeta Terra, não apenas e meramente o homem, mas a diferença e tonalidade dos ruídos emitidos demonstra que elas comunicam entre si e lutam pela vida num ambiente hostil tipificado, agora, simbolicamente na animosidade dos sons agrestes dessa natureza marítima. Se o simbolismo da gaivota aborda, numa fase inicial e superficial, o primado da liberdade humana, então é nítido que essa liberdade, por força das alterações climáticas, se perdeu ou coarctou, de facto, as gaivotas, no inicio do filme, apenas emitem sons mas praticamente não se vêm, não se conseguem vislumbrar nas linhas do horizonte.
O piano entra como um instrumento produto do desenvolvimento cultural humano, e as pessoas que passeiam na rua, em associação com a musicalidade de Bethoven, demonstram a alegria de quem reconquistou a liberdade e o bem-estar após afastar os perigos que afligem a Terra. Na realidade histórica tanto Verdi como Beethoven sofreram dramas no plano pessoal e familiar, no entanto surgem, aos olhos da humanidade, como grandes triunfadores da cultura musical. O triunfo destes homens é o triunfo analógico da culturalidade humana sobre a natureza; primeiro sobre a agressividade e bestialidade diabólica, selvagem, dessa natureza agreste e posteriormente sobre a degradação que a natureza selvagem humana causou ao seu próprio ambiente de habitabilidade vital.
Manipular, nas mãos, o globo humano, é manifestar uma poderosa força de vida e de morte; a pura beleza de quem triunfa sobre a divindade solar, sobre a terra, sobre o ar e sobre o mar, sobre a vida e sobre a natureza; culminando num trompete fálico erecto, hirto e rígido, sobre a areia da praia, mulher que fertiliza, trompete que manipula masturbatoriamente entre as pernas abertas da liberdade de expressão, calando a alegria em favor do triunfo, mas colocando ostensivamente o trompete fálico no seu lugar natural, entre as pernas. A deslocação, equilibrada e manipulatória, sobre a areia da praia molhada exprime a força de um status masculino poderoso, que afasta a bestialidade sexual do envolvimento marítimo sobre a praia fêmea disponível, numa segurança, própria de quem tendo conquistado o planeta, a Terra, conquista agora triunfantemente a mulher. O prémio, a alegria triunfal da culturalidade musical tornam a terra num lugar melhor, um lugar que abandona as oscilações rotatórias das alterações climáticas para permitir a vida em paz e harmonia. O Homem conquista o lugar divino simbolizado pelo Sol; torna-se Deus, num controlo absoluto sobre o vento e as forças da natureza, sobre a Terra e os seus movimentos, sobre o Sol, sobre o Sistema Planetário e o Universo. As gaivotas voam livremente nos céus, o poder absoluto da liberdade absoluta conduz ao poder simbólico da harmonia triunfal em Patrício Teixeira Leite.  
Doutor Patrício Leite, 27 de Junho de 2018