Conceber a dialéctica como uma metodologia
do pensamento humano é propriedade de alguns filósofos humanistas; outros
porém, entendem a evolução histórica, alguns até o desenvolvimento natural e
existencial, como resultado de um processo dialéctico.
Aceitar que toda e qualquer mudança se faz
em três etapas é uma crença antiga e enraizada no inconsciente colectivo. O
pensamento dialéctico ao se estribar na tese, antítese e síntese como forma de
avanço evolutivo está, por inerência, a aceitar um princípio unitário
paradoxalmente diversificado; na realidade a metodologia dialéctica pressupõe, indefinida
e sucessivamente, a tese como união primária de dois princípios, na etapa de
antítese os princípios serão afastados e separados para finalmente se juntarem
e unirem na síntese que, por sua vez, funcionará como uma nova tese para,
retomando a sucessão, explicar o desenvolvimento progressivo da história, da
sociedade e até da realidade física existencial. A metodologia dialéctica teve
grande divulgação no século xx graças ao contexto sociopolítico da época; foi
um combate ideológico entre o idealismo que afirmava, e afirma, o primado da
ideia sobre a matéria e o materialismo dialéctico que, por contraposição, defendia
o primado da matéria sobre a ideia. A antítese dialéctica entre o primado da
ideia ou da matéria nunca foi, nem será, resolvida; trata-se de um antagonismo
fundamental atemporal cuja solução radica numa singularidade primária da
dualidade existencial. Afirmar a tese e a síntese como união de princípios
contrários constitui uma irracionalidade paradoxal ao entendimento humano já
que dois princípios, ainda que contrários, não se podem reduzir a um só; ainda
que se aproximem, ou afastem, continuam a ser dois, por isso se designam princípios;
também a tese e a síntese ocupam, na sequência, posições afastadas e antagónicas
próprias de uma etapa antitética do método dialéctico por isso, a evidência
racional reflexiva conduz para a dualidade como primado existencial
irredutível. A unidade e a diversidade existem, a ordem e o caos também
existem. A unidade da vida, enquanto entidade organizada e a diversidade
caótica da natureza coexistem numa dualidade fundamental irredutível; não
existe um princípio para todas as coisas mas sim dois princípios; a vida é
unitária e organizada, os seres existenciais são diversificados e caóticos; os seres
vivos são diversificados mas ordenados pelo princípio organizacional unitário
da vida. A dialéctica reducionista unitária paradoxal, assente na crença emocional
do inconsciente colectivo, perde racionalidade para a coerência dos dois
princípios dualísticos fundamentais irredutíveis.
Doutor Patrício Leite, 21 de Janeiro de 2018