Se toda a realidade existencial
fosse una e homogénea, pois nada se poderia diferenciar. Se a realidade existencial
fosse diversa mas estática, pois nada se poderia nomear, seria caótica, seria o
caos. A realidade existencial é diversa e variável; a variabilidade diferencial
da realidade existencial permite a ordem ou então, pelo contrário, é a ordem
que permite a variabilidade diferencial da realidade existencial. Há pois uma
dualidade intrínseca e inseparável entre a ordem e o movimento; a ordem e o
movimento são como que as duas faces de uma moeda, as duas páginas da folha de
uma planta, as duas metades simétricas de um ser vivo. A ordem e o movimento
não obedecem à metodologia dialéctica com a sua tese, antítese e síntese que se
manteria permanentemente na fase antitética; a ordem e movimento são uma realidade
dualística intrinsecamente indissociável. O movimento mais não é do que a
variação diferencial da realidade ambiental externa, mas essa variação diferencial
não ocorre ao acaso, não ocorre por movimentos desordenados ou caóticos; no império
da desordem reina a estática, nunca a dinâmica; o movimento, o dinamismo,
enquanto realidade diferenciável pela variabilidade implica ou corresponde a
uma ordem, uma forma de variabilidade ordenada. A máxima ordem que se pode
encontrar, na totalidade da realidade existencial universal, é fornecida pelas
permutações matemáticas; há pois uma ordem finita num universo finito. Na
totalidade do universo, o número de variações, o número de distinções, o número
de movimentos que se podem encontrar é finito e delimitado pela numeração das
respectivas permutações matemáticas; mas as permutações são apenas distinções
de variáveis ordenadas que promovem a noção de movimento. A liberdade
associa-se com o movimento diferencial, por seu lado o movimento diferencial
associa-se com a ordem, sem ordem não há movimento, portanto ordem e liberdade
caminham conjuntamente, mas com a continuidade do movimento diferencial o grau
de liberdade diminui, o movimento torna-se repetitivo, a liberdade termina portanto,
a liberdade nunca pode ser um valor absoluto. Só um ente, uma entidade
criadora, uma entidade organizativa criativa, como a vida que cria as suas
crias; só a vida é capaz de organizar e criar ordem; só a vida, como entidade
organizativa e expansiva, é capaz de criar ordem em prol do movimento e da
liberdade. A vida é pois o único valor absoluto, mas é um valor absoluto
dualista já que é constituída simultaneamente por um aspecto organizativo e
outro expansivo, aspectos estes que, apesar de diferentes, se unem na dualidade.
Doutor Patrício Leite, 20 de Fevereiro
de 2017