As alterações climáticas a que assistimos e a
proliferação facilitada das viagens internacionais têm favorecido a emergência
de novas doenças nos países turísticos da Europa de sul. Portugal não escapa; é
exemplo o surto da Dengue na ilha da Madeira, local onde existia um vector
conhecido: o mosquito Aedes aegipty. A partir deste surto, as autoridades de
saúde redobraram a vigilância do vector e tomaram medidas de protecção
extraordinárias para que ele não alastrasse ao território continental, no
entanto um outro vector, o Aedes albopictus, vai colonizar o território
continental português. A rede de vigilância pode ser melhorada, pode ser mais
apertada mas, inevitavelmente teremos em Portugal continental, nos próximos 2 a
4 anos na região de Lisboa e Vale do Tejo, um novo inimigo; o mosquito Aedes
albopictus. Este mosquito que na Europa se disseminou a partir da Albânia, já
coloniza toda a costa norte do Mediterrâneo ocidental envolvendo Itália, parte
do sul da França e Espanha nas regiões da Catalunha e Múrcia e finalmente
Portugal, apesar de ainda não ter sido captado pelas redes de vigilância
portuguesas. É no verão que se aproxima ou no próximo que será tornado oficial
a sua presença em Portugal. As trocas comerciais e turísticas entre Portugal e
Espanha e a respectiva proximidade transformam Espanha, num país privilegiado
que nos vai contagiar com o mosquito, um outro país de origem poderá ser a
Itália. Em Janeiro de 2014 surgiu em Lisboa um caso misto
de coinfecção pelos vírus da Dengue (serótipo 4) e Chikungunya importado de
Angola pelo que, se o mosquito Aedes já cá estivesse em quantidade apreciável,
teríamos neste momento alterado o mapa geográfico das doenças, em Portugal e no
mundo. O Aedes albopictus relaciona-se com a transmissão de aproximadamente
duas dezenas e meia de doenças virais, entre outras; pelo que após o mosquito invadir
Portugal, surgirão até ao ano 2020, doenças como a Dengue e Febre-amarela,
infecção pelos vírus Chikungunya e do oeste do Nilo, filaríase etc. A presença
destas doenças diminui muito o nível de biosegurança da comunidade o que torna
Portugal num país sob ameaça.
Doutor Patrício Leite, 26 de Março de 2014