A
análise económica e social, em mercados livres e concorrenciais, tem os
fundamentos da sua teoria nas leis da oferta e da procura. A sobrevivência
empresarial, assim como o seu crescimento expansionista, dependem da tenacidade
competitiva mas também do conhecimento dos mercados e respectivo planeamento
estratégico. Em democracias partidárias representativas, os partidos, como
empresas políticas, que são, têm a sua essência, o seu core business, no mercado eleitoral com a venda de promessas de
decisões políticas futuras, por parte das organizações partidárias que, em
troca, pretendem a confiança e respectivo voto por parte dos cidadãos eleitores.
A
natureza empresarial e concorrencial dos partidos políticos leva-os a,
tentativamente, definir estratégias de mercado e marketing, em tudo, iguais às
das outras empresas; de facto, os votos são escassos e não chegam para todos,
só alguns serão ganhadores. Em conformidade com as outras empresas, que também criam
e manifestam muitas e variadas barreiras à entrada de novos concorrentes, assim,
no mercado eleitoral há sempre partidos a entrar e a sair; as semelhanças de
mercado conduzem a uma análise e planeamento estratégico semelhante. A teoria
do ciclo de vida mostra que o mercado eleitoral português, desde há vários
anos, está em contracção; há uma recessão política, uma crise de confiança, um
défice de confiança nos políticos e partidos; os eleitores, cultos e
instruídos, reconhecendo o elevado valor do seu voto, preferem não o trocar por
promessas falsas, não querem “comprar gato por lebre”, não votam. A concorrência
pelo voto é muito intensa, a oferta das promessas de decisões políticas futuras
é muito diversificada. As estratégias de ataque e conquista do mercado
eleitoral são afectadas por muitas variáveis; há as ganhadoras e as perdedoras.
No
ciclo de vida do mercado eleitoral, actualmente em contracção e declínio, os
pequenos e os novos partidos que conseguem penetrar as barreiras de entrada à
concorrência terão, para sobreviver, que adoptar a concentração como estratégia
de produto. Efectivamente, os grandes partidos, por semelhança com as grandes
empresas, diversificam acentuadamente o seu mix de marketing aumentando assim
as barreiras à concorrência; por vezes usam até a mera diversificação de marcas,
ou seja, as mesmas promessas de decisão política futura, mas revestidas com um fraseado
diferente, para dificultar o crescimento dos pequenos e a entrada de novos; por
conseguinte, aos pequenos partidos restam as franjas, ou nichos específicos de
mercado que, sendo pouco rentáveis, não cativam o desejo dos grandes. Num
mercado em crescimento, em expansão, a cópia como táctica de entrada, a
estratégia “me too”, é barata e capaz de cativar eleitorado; em mercados
expansionistas o crescimento pela diversificação torna-se a maior necessidade
para a expansão empresarial e partidária; num mercado em declínio, em
contracção, como ocorre actualmente, a criatividade e imaginação criativa terão
de ser maiores, a concorrência é feroz e a entrada terá de procurar nichos de
mercado pouco explorados, atacando esses mercados eleitorais com estratégias de
concentração, a concentração no core
business torna-se fundamental à sobrevivência em mercados recessivos. As
matrizes BCG e GE são ferramentas muito úteis para, tendo em atenção as fases
do ciclo de vida e respectivo crédito atribuído pelo eleitorado às promessas
políticas, gerir as promessas oferecidas assim como a relação com os segmentos
de mercado cuja alocação de recursos deve prevalecer. Num posicionamento contingêncial
face à mutabilidade do mercado eleitoral ambiental, as organizações políticas
têm de considerar a matriz de Ansoff que relaciona as promessas políticas novas
e antigas com o desenvolvimento novo e continuado desse mercado eleitoral.
Obviamente o planeamento estratégico, qualquer que seja, terá sempre de
considerar todas as forças e fraquezas, oportunidades e ameaças na relação
entre o ambiente interno e externo do partido político; só assim será possível
conceber um projecto e implementar um plano de marketing vencedor. A alocação e
utilização eficiente dos recursos, conjugada com a colocação e consecução de objectivos
eficazes, são fundamentais para conseguir resultados ganhadores. Na realidade
política portuguesa, com um mercado eleitoral em declínio, em decrescimento
lento, em contracção lenta mas permanente tem, paradoxalmente, entrado um
número aumentado de novos e pequenos partidos; a competitividade concorrencial,
a luta, o combate político pela “caça” ao voto, tornam-se ferozes; os grandes
partidos, com as clássicas estratégias de diversificação, elaboram campanhas de
marketing onde tudo prometem e nada cumprem, perdem eleitorado, perdem quota de
mercado, o mercado eleitoral global contrai-se, declina e decresce; os pequenos
partidos também são falsos, também prometem e não cumprem, porém, entre os
pequenos partidos alguns, imitando os grandes, definem estratégias de
diversificação que os tornam imediatamente perdedores; outros, fazem
planeamento estratégico com base na concentração e, com isso, ganham quota de
mercado. Num mercado em contracção e declínio permanente, qualquer planeamento estratégico
com base na diversificação é inadequado e imediatamente perdedor, agora
imagine-se, um pequeno partido a esbanjar os seus escassos recursos em planos
abrangentes e diversificados de marketing, … só pode fracassar!
O
bloco de esquerda era um pobre e miserável minúsculo partido, pequeníssimo; até
que optando por estratégias de concentração, começou em primeiro lugar por se
concentrar no mercado dos homossexuais, estes lutando pelo orgulho da sua
fixação sexual anómala, deram-lhe o voto, conseguiu ganhar esse mercado
eleitoral; de seguida, avançou para o sector do mercado eleitoral dos
tóxico-dependentes; obviamente que o desespero destes, e seus familiares, pelo
consumo desenfreado e legalizado da droga, deram-lhes o voto; tendo crescido e
conseguido influência política na assembleia da república, avançou para um novo
nicho de mercado eleitoral, o mercado do aborto; naturalmente, o remorso, a
culpa e o medo, das mulheres que abortaram, assim como das respectivas
famílias, tendo estado envolvidas nesses abortos, pretendiam abandonar o remorso,
a culpa e o medo da lei, assim, legalizaram o aborto e deram o voto eleitoral
ao bloco de esquerda; este partido cresceu à custa de um eleitorado
sentimentalmente transgressor da lei e dos bons costumes, mas que pretendia ver
a sua actividade transgressora, legalizada e aceite pela sociedade; finalmente,
seguindo o seu planeamento estratégico, continuando a lutar contra a vida,
pretendendo erradicar a vida humana, pretendendo que morram o máximo número de pessoas;
o bloco de esquerda promete, agora, legalizar a eutanásia. A homossexualidade,
a tóxico-dependência, o aborto e a eutanásia, constituem modos de erradicar a
vida humana; por conseguinte, numa sociedade deprimida, com tendências suicidas
e homicidas, o nicho de mercado eleitoral do bloco de esquerda é o mercado da
morte, é o mercado dos eleitores que estão dispostos a dar o seu voto ao
partido que legalize a erradicação da vida humana, própria e alheia. Outra
situação de concentração estratégica num nicho de mercado eleitoral, revela-se
no partido dos animais; efectivamente, este pequeno partido, que ainda há
poucos anos nem sequer existia, concentra o seu planeamento estratégico de
política eleitoral, num nicho de mercado constituído pelos seres humanos que,
sofrendo ou tendo sofrido, por causa de outras pessoas, ou tendo simplesmente
sido abandonadas; decidiram revoltadamente refugiar-se no conforto e companhia
dos animais. O nicho do mercado eleitoral dos animais, é constituído por
pessoas que optaram por dar o seu voto ao partido que prometesse, por exemplo,
proteger e alimentar os animais nos canis municipais contra a morte assistida
pelos veterinários, nem que para isso fosse preciso legalizar a eutanásia de
seres humanos ou deixar crianças morrer à fome. Conforme se comprova por estes
dois exemplos, as estratégias de concentração política eleitoral em nichos de
mercado sentimental, específico e pouco explorado pelos grandes partidos,
conduzem à sobrevivência e crescimento dos pequenos; porém, não é apenas
suficiente o planeamento estratégico; para os pequenos partidos, são necessárias
tácticas e operações de marketing com base na gestão de relações personalizadas
com o cliente, mas também tácticas publicitárias compatíveis; a clássica
fórmula publicitária AIDA: Atenção, Interesse, Desejo, Acção; manifesta aqui
toda a sua utilidade. Por exemplo, aspectos como o combate à corrupção
política, ao “compadrio” e tráfico de influências, à difusão de favores e
lugares no governo a familiares e amigos, chamam a atenção e despertam o
interesse, também o desejo de mudança, mas não conduzem à acção de votar nos
partidos que propõem esse combate fundamental; as pessoas que votam sabem que
estão a votar em falsos e corruptos, mas continuam a votar; as pessoas que se
abstêm, não confiam em políticos e continuarão numa abstenção, sábia e
consciente.
Doutor Patrício Leite, 27
de Julho de 2019