A manipulação mental é uma actividade que pressupõe
relações humanas baseadas numa interacção
comunicacional, predominantemente unidireccional, dirigida à
influenciabilidade inerente a todo o ser humano. Sem interacção,
comunicação e influência não é possível a manipulação
humana; mas esta pressupõe uma direcção ao
futuro. A manipulação mental implica sempre numa alteração
da mente humana, assente numa relação de confiança ou
medo, presente numa vocação para o futuro. Ao nível
das emoções e sentimentos é a confiança; o
sentimento de esperança, a fé de sentir segurança,
que determina a manipulação mental; outros sentimentos como o
amor e o ódio, a tristeza e a alegria, podem estar presentes e
funcionar como coadjuvantes, mas a confiança é o único sentimento com vocação
no futuro. Para efeitos de manipulação mental, a ansiedade, receio e medo,
são formas de confiança de que algo de negativo irá,
ou poderá, ocorrer no futuro. Todas as formas de psico e
socioterapias se baseiam na confiança e as técnicas da manipulação
mental, por sua vez, baseiam-se nos mesmos princípios que diferenciam as várias
formas de psico e socioterapia. A manipulação do ambiente físico,
o uso de químicos e fármacos, assim como a tortura, a
provocação de dano corporal, a alteração do metabolismo orgânico,
são frequentemente usados quando se manipulam pessoas isoladas
em ambientes completamente controlados. Após uma contaminação tóxica
mental pode ser necessária uma limpeza, uma lavagem mental;
esta limpeza pode ser apoiada por agentes físicos e farmacológicos,
mas a sua base nos princípios das psico e socioterapias
duradoiras tem de estar sempre presente.
A
manipulação mental de massas, na sociedade actual, está
associada aos meios de comunicação unidireccional. Qualquer pessoa que
tenha uma notícia e a tente divulgar nos meios de
comunicação social, vai verificar que não é capaz. Os meios de comunicação
social unidireccional estão orquestrados por agências
de notícias e poderes de controlo que criam e divulgam as notícias
que conduzem a um modelo de organização social previamente estabelecido, as
notícias que divergem deste modelo, são
simplesmente excluídas. Qualquer pessoa que forneça
uma notícia a um agente noticioso e a veja retransmitida e
socialmente amplificada deve perguntar-se: Quem ganha e quem perde com ela?
Sim, uma notícia implica sempre alguém
que ganha e alguém que perde, mas não
ao nível local, a abrangência tem de ser conceptualizada nos
grandes grupos sociais, ao nível macro social.
As
formas que os meios de manipulação social unidireccional usam, tanto
para inocular o medo como para o retirar, são as formas das psicoterapias. Algumas:
1 –
Assim como no marketing frequentemente se associa a credibilidade da imagem de
uma linda mulher a um carro ou outro objecto que se pretende vender, também
nas notícias ou qualquer outra comunicação de
massas, usada pelos meios de manipulação unidireccional, se fazem associações
entre estímulos positivos ou negativos e a ideia ou atitude que se
pretende ver implantada na população. E a linda mulher? O comprador fica
sem ela, mas pagou pelo carro e por ela. As teorias do comportamento
condicionado e as técnicas cognitivo comportamentais são
largamente utilizadas na manipulação unidireccional dirigida pelos meios
de manipulação social.
2 –
Qualquer líder social vê o seu carisma, a sua credibilidade
largamente ampliada pelos meios de manipulação social e depois dirige-se aos súbditos,
aqueles que o escutam, os seguidores, num tom lento, pausado, monótono,
imperativo, com gestos enfáticos e as mãos
abertas com os dedos levemente encurvados, olhar penetrante e quase fixo,
hipnotizante e baseado precisamente nos princípios do hipnotismo. Como será
um destes líderes carismáticos quando está
com dor de barriga, ou com uma diarreia a correr para a casa de banho, sentado
na pia? Onde estará a seu carisma e credibilidade nestas
situações? E os seus antepassados, os reis, essas coisas a que
chamavam sangue azul: tanto carisma, tanto carisma; tanta credibilidade; para
quê? morreram todos. Com carisma ou sem carisma ninguém
ficou cá, pelo que de nada vale idolatrizar as outras pessoas!
3 - E os
interpretadores? Esses psicanalistas falhados que emitem opinião
sobre os mais variados sentimentos e atitudes do cidadão, que
os escuta. Os interpretadores, escolhidos a dedo para líderes
de opinião, não se limitam a interpretar os
sentimentos e atitudes do cidadão individual, vão mais
longe, numa abordagem sistémica familiar procuram, a favor de
quem lhes paga, reinterpretar os sintomas da grande família
social nacional, depois prescrevem o que entendem ser os melhores
comportamentos ou então, numa atitude de grupo grupanalítico,
lançando o padrão na matriz, interpretam as relações
internacionais. Sempre tendenciosos. A sua credibilidade advém-lhes
de uma falsa neutralidade e da carismática propaganda maliciosa que os donos
dos meios de manipulação social, que os contrataram, desenvolvem.
Por semelhança com as psicoterapias dinâmicas,
interpretadores há muitos, e cada um interpreta à
sua maneira; todos têm em comum o facto de servirem uma
orquestração ao serviço de uma ordem social previamente
estabelecida.
4 –
O espectáculo. São muitos os actores; na cultura, nas
artes, no teatro, música, dança,
desporto. Não atinge o topo quem quer mas apenas quem entra na orquestração
psicodramática definida pelos instigadores e controladores da ordem
social que desejam. O cenário psicodramático
interpretativo define os papéis dos actores que confiadamente tomarão
maior relevo, quem não obedecer a essa interpretação
será afastado. A obediência ao desempenho do papel instituído
pode ser inconsciente, mas uma coisa é certa, quem não lhe
obedecer será afastado do topo. O herói
desportivo, do cinema, da música, que não
aparece será esquecido, perde a honra, a confiança dos
seus colegas e será afastado. Esta é
a manipulação mental pelo psicodrama do espectáculo.
5 –
Até os sentimentos filosófico religiosos são
mentalmente manipulados. Como numa terapia gestalt as pessoas são
induzidas a confiar e aceitar o fenómeno da sua existência
individual como estando ao serviço de uma ordem social previamente
estabelecida e controlada pelos manipuladores; só assim, obedecendo à
manipulação, as pessoas sentirão, confiarão, que
a sua realidade existencial individual tem algum sentido.
Falar de
manipulação mental, no modelo social das sociedades do conhecimento, é
falar da aplicação dos conceitos e princípios
das psicoterapias a toda a comunicação unidireccional dos meios de
manipulação social, usados e difundidos massivamente. Fugir da
manipulação é impossível mas estudar, um pouco, cada uma
das várias formas de psico e socioterapias existentes, e de
seguida aplicar à realidade comunicacional envolvente,
torna-se o modo mais rápido de, cada pessoa, compreender como
está a ser mentalmente manipulada.
Doutor
Patrício Leite, 21 de Novembro de 2015