Universo fala com Humanos

A dualidade entre a realidade física do universo existencial e a mente do ser humano que o observa e capta é mediada por um crivo, uma barreira, que filtra a captação dos estímulos externos. Desde logo, o ser humano não pode captar tudo aquilo que o cerca mas tão somente capta os estímulos para os quais tem receptores sensoriais. Os órgãos das sensações: visão, audição, olfacto, tacto e gosto ou paladar; têm receptores sensoriais para determinados estímulos externos e são estes estímulos que vão ser captados; não é toda a realidade física envolvente que é captada mas apenas aquela para a qual o ser humano tem os respectivos receptores sensoriais. A captação da realidade física envolvente não é linear mas logarítmica, faz-se de acordo com a lei psicofísica das sensações, portanto é necessária uma grande variação física dos estímulos externos para produzir uma pequena variação, uma pequena sensação, no interior do ser humano que os sente. A função matemática que traduz esta relação é: Y = logaritmo (X), sendo que: X = realidade externa e Y = realidade interna.
Quando o universo fala com os seres humanos fá-lo através dos sons, através da realidade sonora, através dos receptores auditivos. A música e as notas musicais organizadas, manifestam uma das maiores dualidades da interacção entre o ser humano e o universo físico; esta dualidade exprime-se nas notas musicais que têm sempre uma componente física num som que consiste numa determinada frequência de vibração e uma componente humana que consiste num determinado tom como resultado de uma ordem e assim surge a escala musical como uma sequência ordenada de tons pela frequência vibratória de sons. A duplicação de uma frequência vibratória provoca o mesmo som mas com uma tonalidade diferente pelo que assim se estabelecem os limites de uma escala musical, por outro lado, sons diferentes constituintes de uma escala padrão, repetem-se sucessivamente com a sucessiva repetição da escala; isto faz com que as frequências vibratórias variem muito mais que os respectivos sons produzidos; a relação matemática que traduz estas variações é uma função logarítmica cujo logaritmo tem base dois, ou seja: Y = log2 (X), sendo que: X = frequência vibratória e Y = sons produzidos. A repetição periódica pode ser traduzida por funções trigonométricas, por outro lado a representação gráfica da escala musical temperada, num gráfico com uma coordenada polar e uma distância, surge como uma espiral logarítmica.
Há cristais com propriedades piezoeléctricas que transformam pressões, vibrações ou ondas mecânicas em correntes eléctricas e vice versus, portanto as ondas sonoras que são mecânicas podem ser transformadas em ondas electromagnéticas e vice versus. Se admitirmos que toda a matéria, todas as substâncias e compostos têm, em maior ou menor quantidade, propriedades piezoeléctricas, então também é lógico admitir que a qualquer onda mecânica se associa sempre uma onda electromagnética e vice versus, ou seja, as ondas electromagnéticas e mecânicas são como as duas faces de uma moeda; neste sentido a propriedade da onda sonora de emitir o mesmo som quando se duplica a sua frequência também se deve verificar para a onda electromagnética. Assim, partindo da nota musical lá (ou A), como primeira oitava, com frequência vibratória pelo diapasão de 440HZ chega-se na oitava número 40 da escala musical diatónica temperada a uma frequência de 4,8 X 1014 Hz que no espectro electromagnético se posiciona na região do vermelho na faixa do espectro visível pelo que a esta cor corresponde o som lá (ou A). Nesta lógica de pensamento, a radiação electromagnética designada radiação cósmica de fundo pode ser traduzida em sons ou notas musicais que mais não são do que o universo a falar com os seres humanos. A representação gráfica da espiral logarítmica, que se verifica para as ondas sonoras de uma escala musical temperada e, por associação, para as ondas electromagnéticas, é em termos de analogia pictórica semelhante à espiral da galáxia Via Láctea ou das que se verificam em furacões e traduzem exemplos de sons que a realidade física usa para falar com humanos.
Ao acrescentar dimensões a esta espiral logarítmica representante do som de uma escala musical temperada caminha-se para um espaço descontínuo e com cinco dimensões em que todo e qualquer movimento não é mais do que um turbilhão volumétrico espiralado em vórtice, turbilhão que turbilha e confere propriedades reológicas ao espaço ou distância e que assim, origina a designada radiação cósmica de fundo pela qual fala com os seres humanos.
                   Doutor Patrício Leite, 17 de Setembro de 2016