O estudo dos grupos e a sua
utilização como instrumento psicoterapêutico têm tido aceitação crescente,
sobretudo para as situações em que uma pessoa, na sua individualidade, tem
dificuldade nas interacções sociais; o grupo pode também causar sofrimento a um
ou vários dos seus elementos mas o grupo, como um todo, pode ser a origem do
sofrimento de todas as pessoas que o constituem e nesta situação diz-se que o
grupo está doente, é um grupo patológico. Compreender a grupopatologia é muito
importante em alguns tipos de grupos. Se é certo que a adesão espontânea de
algumas pessoas pode formar um grupo aberto também se compreende que nascemos
em grupos já constituídos, como a família, cuja adesão não foi de nossa livre
escolha; mas também estudamos ou trabalhamos em grupos relativamente fechados
com padrões e regras estabelecidas cuja coesão é medida pela força das
necessidades que nos levam a procurar este tipo de grupos estruturados e duradoiros.
Se nestas situações grupais se verificar elementos de sofrimento patológico,
então o sofrimento das pessoas que o integram será duradoiro e difícil de
atenuar. Compete a cada pessoa conhecer os grupos em que está inserida e o
sofrimento que este ou estes grupos lhe causam, para assim poder decidir se
neles continua ou abandona. Os chefes ou líderes grupais podem ser fonte de
sofrimento dos subordinados ou seguidores mas as relações de competição pela
liderança podem conduzir à formação de alianças com subgrupos de interesses que
abandonam a cooperação nas tarefas e actividades que visam atingir objectivos
comuns para deturpar a matriz de comunicação e destruir os vínculos de
influência comunicacional alterando assim as fronteiras do grupo e dos
subgrupos. Há características que revelam o sofrimento do grupo como um todo, é
assim que surge o fenómeno do inimigo interno, por vezes personalizado apenas
num elemento do grupo, designado bode expiatório que, alegadamente, se afastado
levaria ao bem-estar de todos. Os fenómenos de bode expiatório revelam um grupo
altamente patológico, com grande sofrimento, ansiedade e medo irracional e se
afastassem um bode expiatório imediatamente precisariam de outro, pois o
sofrimento iria continuar. Quando a coesão diminui e a tendência para a
formação de subgrupos é muito grande, o risco de cisão é também elevado pelo
que o líder poderá arranjar um inimigo externo mantendo assim a liderança de um
grupo coeso. De notar que a coesão é a força que mantém a união das pessoas ao
grupo, pelo que aquilo que as une terá de ser superior ao que as separa, de outro
modo o grupo desagrega-se.
São várias as características
de um grupo como a coesão, o padrão e regras, a adesão ao grupo, liderança, fronteiras
e subgrupos, alianças, vinculo e objectivo comum, tarefas e actividades,
cooperação e competição, matriz de comunicação, bode expiatório e o inimigo
externo etc. A patologia de uma ou várias das suas características é sempre
fonte de sofrimento. Por exemplo, o boato, que é uma manifestação de sofrimento
no grupo, espalha-se pela matriz de comunicação informal e une as pessoas dos
subgrupos cujo vínculo e objectivo comum põe em causa a coesão do grupo como um
todo; já o líder ou chefe pode inspirar um padrão informal de interacções ou então
impor regras rígidas e constrangedoras na execução de tarefas e actividades
causando assim fadiga e sofrimento. A ausência de regras é também uma fonte de
sofrimento, porque em situações competitivas pode originar conflitos. Um grupo
com uma estrutura rígida e fronteiras completamente fechadas pode caminhar para
a extinção por dificuldade de adaptação ao não acompanhar as mudanças e
transformações do exterior mas um grupo completamente aberto também perde a sua
identidade grupal sem a qual deixa de existir e ter dinamismo próprio transformando-se, por isso, em multidão.
Nascemos e vivemos em grupo,
pelo que compreender os seus mecanismos, dinamismos e características é
adquirir liberdade e previsão do futuro e a capacidade de o alterar em proveito
próprio e de todos.
Doutor Patrício Leite, 3 de Julho
de 2016