HÁ UMA SÓ VIDA

Muitas são as partes. As partes, não se relacionam entre sí, não têm qualquer ordem nem organização. Caos, simplesmente caos. Descontinuidade. Finitude. Heterogeneidade. Atemporalidade. Estática. Incomunicabilidade. Ausência de localização ou espacialidade. Estas são algumas das características que a vida conhece e reconhece nas partes. A vida é também uma parte. O que é a vida? A vida é uma parte organizativa e expansiva cuja finalidade é a sua permanência. A vida é só uma, uma só. Não há várias vidas; há uma parte que é vida, uma só vida. Das muitas partes, a vida, que é uma só, é a única que se relaciona com as outras partes. A vida organiza as outras partes. Desta organização, das outras partes, surgem os seres vivos. Os seres vivos são muitos e variados; têm uma componente vida e uma componente não-vida. A componente vida é única em cada um e todos os seres vivos, há uma só vida; as componentes não-vida variam de acordo com as partes que a vida organizou na constituição de cada ser vivo. A vida expande-se na organização das partes a fim de manter a sua permanência. Enquanto existirem partes, a vida continuará a sua expansão e novos seres vivos se formarão. A vida é uma só; única, homogénea, continua, dinâmica, infinita na sua expansividade. O movimento era uma das partes existentes que, por um acto inicial relacionou-se com a vida, e a pôs em relação com outras partes. Desse acto inicial primitivo nasceu o tempo e o espaço e as outras grandezas que a física estuda. Também os elementos orgânicos (carbono, oxigénio, hidrogénio e azoto) que a biologia identifica como presentes em toda a vida da Terra, não fazem parte da vida, mas sim do ser vivo. Estes elementos constituem frequentemente compostos venenosos que matam outros seres vivos, pelo que não  poderão ser a base da vida. A vida é uma só mas, na Terra, parece relacionar-se com as outras partes por intermédio desses elementos orgânicos. No entanto há outros modos de a vida se relacionar com as partes na constituição de seres vivos. Os seres vivos, humanos, estão habituados a estudar e compreender outros seres vivos. Os seres vivos apresentam grande diversidade. Esta biodiversidade gera confusão quando se afirma que a vida, no Universo, é única e uma só, no entanto, se nos conseguirmos abstrair dos seres vivos, que são muitos, e pensar apenas no "vivo" e retirar o "ser", então sim encontra-se a unicidade da vida. A vida única. A única vida. Por analogia com a história das religiōes, quando num mundo panteista Abraão afirmava que havia um só deus, os sábios e cultos do seu tempo, ficavam confusos e combatiam essa ideia. Dizer actualmente, em que apenas se fala da diversidade da vida, que a vida é só uma, não há diversidade da vida, há apenas diversidade de seres vivos e todo e qualquer ser vivo tem, em sí, essa vida única; gera confusāo nas mentes propensas ao pensamento facilitado. No entanto, conforme os seres vivos, sobretudo os humanos, se forem desapegando e desprendendo do ser em prol da vida, maior será a continuidade da vida. A continuidade da vida trará a imortalidade. 
 Doutor Patrício Leite, 30 de Abril de 2012