Desde as primeiras civilizações, pelo menos,
que o homem sabe ser capaz de influenciar o seu semelhante, de lhe mudar as
crenças, sentimentos, atitudes e comportamentos. As metodologias da influência
hipnótica são muitas e variadas porém considera-se que se baseiam sempre na
sugestão, a qual pode ser directa ou indirecta. A sugestão é, na sua essência,
qualquer afirmação categórica sem a respectiva demonstração. A ausência de
demonstração daquilo que se afirma implica imediatamente que a pessoa, objecto
dessa afirmação, tem de acreditar no que lhe é afirmado; ainda que por absurdo não
acreditasse, sempre se diria que qualquer demonstração, para se concretizar,
necessita de premissas, axiomas, dogmas ou quaisquer tipo de afirmações
apriorísticas que jamais podem ser demonstradas. Assim, se o fundamento do
hipnotismo está na sugestão pois o fundamento da sugestão está na confiança. A
vida em sociedade seria impossível sem confiança e todas as pessoas são, mais
ou menos, sensíveis às sugestões. A criança ao nascer já vem apetrechada para
acreditar, primeiro nos progenitores e depois nas outras pessoas. Se a sugestão
permite a influência pessoal pois o hipnotismo vai mais longe, é uma influência
pessoal mais profunda, é uma influência pessoal levada aos extremos, é o transe
hipnótico. Para induzir o transe são emitidas sugestões hipnóticas indirectas e
directas que se confundem com ordens para que o hipnotizado assuma determinado
comportamento. Primeiro é necessário um trabalho de preparação em que a pessoa
é levada a aceitar obedecer às sugestões que lhe vão ser dirigidas; depois a
repetição lenta, monótona e imperativa de ordens ou sugestões, cada vez mais
complexas, conduz o hipnotizado a um estado de aceitação passiva daquilo que
lhe é ordenado com aparente obediência. A história da influência pessoal
começou nos primórdios do instinto gregário, com o desenvolvimento dos
primeiros agrupamentos de pessoas, com os primeiros feiticeiros das tribos,
capazes de desencadear crenças e mobilizar vontades humanas; progrediu ao longo
de muitos séculos até que mais tarde surgiu uma espécie de influência pessoal
designada magnetismo animal que por sugestões indirectas induzia o transe
hipnótico; esta influência tomou finalmente a designação de hipnotismo. Há
comportamentos constantemente presentes em todas as sessões em que são
induzidos transes hipnóticos, por exemplo da parte do sujeito hipnotizado verifica-se,
entre outros, uma certa perda da real noção do espaço e do tempo durante o qual
decorreu a sessão, uma intensa concentração da atenção na figura do
hipnotizador com exclusão de todos os estímulos que dele não sejam provenientes
assim como uma aparente e pronta obediência às suas ordens, por outro lado, da
parte do hipnotizador há também uma concentração muito grande no trabalho a
realizar com os sujeitos em transe pelo que essa relação, a relação hipnótica,
exige uma sincronia empática muito intensa entre hipnotizado e hipnotizador
tornando-se a realização repetitiva de sessões hipnóticas, ao longo do tempo,
fastidiosas para o hipnotizador. As modernas teorias do comportamento e das
ciências mentais procuram explicar os comportamentos relacionados com o transe
hipnótico com base nas suas premissas assim, pela teoria social o papel e
estatuto do hipnotizado está bem estabelecido pelo que apenas é preciso
encontrar quem o represente, pela teoria psicanalítica refere-se um
afrouxamento do ego, pela teoria comportamental apontam-se reflexos
condicionados associados aos comportamentos emitidos, pela teoria sistémica
aborda-se também a comparticipação dos espectadores no desempenho de todos os papéis
e estatutos envolvidos. O desenvolvimento do hipnotismo esteve sempre envolvido
em certa controvérsia, ainda hoje se discutem os seus poderes, os poderes da
mente; na realidade, por mais espectacular que seja a sessão hipnótica, por
mais magnífica que pareça, o certo é que o hipnotismo não permite ultrapassar
as condicionantes das leis físicas e químicas, nem sequer atingir todo o
potencial da mente humana, porém a sua compreensão é muito útil já que ainda no
presente, e apesar do enorme desenvolvimento científico e tecnológico, toda a influência
pessoal obedece aos princípios do hipnotismo pelo que conhecer o hipnotismo é
conhecer as leis que determinam a influência pessoal.
Doutor Patrício Leite, 9 de Outubro de 2017
Doutor Patrício Leite, 9 de Outubro de 2017